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Os mitos e as verdades sobre os alimentos

Vaivém de pesquisas científicas sobre determinados nutrientes pode causar confusão na hora de escolher o que colocar no prato.

Por Fernanda Dias

 

O tomate era considerado vilão pela semente que poderia dar cálculo renal (Fonte: FreeDigitalFotos)

Eles rapidamente transitam da lista de vilões para a de mocinhos e vice-versa. Atacados por alguns cientistas num determinado momento, tempos depois eles passam a ser defendidos por um estudo que diz que não é bem assim. O certo é que alguns alimentos figuram constantemente no centro do debate do que faz bem ou não para a saúde. Entre os que mais oscilam na gangorra de benéficos ou maléficos ao organismo estão o ovo, o sal, a manteiga, o chocolate e o tomate. Mas, afinal, o que realmente devemos absorver dessa guerra de informações contraditórias?

Para o chefe de Nutrição do Instituto Nacional de Cardiologia, Marcelo Barros, é preciso observar, principalmente, se o estudo não apresenta resultados preliminares. Além do mais, não podemos esquecer, como ressalta Barros, que uma única pesquisa é insuficiente para mudar as recomendações alimentares da população:

“Uma reportagem que dizia que o chá de pata de vaca era importante para controlar o diabetes fez com que várias pessoas corressem às lojas para comprar o composto. Isso estava sendo testado em animais e foi apresentado como se fosse coisa definitiva. É aí que está o risco”.

Segundo Barros, até se comprovar que teorias obtidas com animais podem ser comprovadas em humanos há uma demora de pelo menos mais cinco a dez anos de estudos. Ele enfatiza ainda que é necessário observar a população abordada pela pesquisa, pois o grupo estudado pode ter especificidades distintas das do paciente.

“Não podemos dizer se um alimento faz bem ou mal. O ovo, por exemplo, faz mal a algumas pessoas e bem a outras. Para uma paciente com problemas como colesterol, diabetes ou hipertensão, ele pode ser um veneno, mas para uma pessoa desnutrida pode ser um santo remédio. Por isso, é fundamental saber quais as características do grupo utilizado na pesquisa”, explica o especialista.

O fato de, em geral, comermos mais de um tipo de alimento de uma só vez dificulta ainda mais os testes com alimentos. Conforme observa o diretor da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) Paulo Henkin, as substâncias que ingerimos interagem com o nosso corpo. Assim, não basta estudar as propriedades de um alimento, é preciso conferir não só os efeitos desse nutriente no organismo, mas também as reações que ele pode desenvolver quando aliado a outros compostos.

“Hoje já se sabe que existem mais de 24 mil substâncias nos alimentos. Dentro do estômago, elas reagem entre si e com o corpo humano. A ciência já detectou, por exemplo, que alguns nutrientes presentes nas frutas bloqueiam o processo de formação de células cancerígenas. Mas, ainda não se sabe precisamente qual é essa substância, em que frutas ela está presente, e em qual quantidade deve ser ingerida”, ressalta Henkin.

Os especialistas são unânimes em dizer que, antes de abolir ou exagerar no consumo de um alimento em função de uma nova pesquisa que foi divulgada pela mídia, é fundamental consultar um médico. Ele saberá indicar qual é a melhor dieta para cada caso. Membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos (Abea), Fabiane Mendes da Câmara lembra que os alimentos são veículos de nutrientes que o organismo precisa:

“Os alimentos são nutrientes e, portanto, sempre são saudáveis. Não há alimento não saudável, conforme é muito comum aparecer erroneamente na mídia ou na linguagem de leigos. Se não for saudável, não é um alimento”.

Já a quantidade que uma pessoa pode ingerir de determinado alimento vai depender, principalmente, dos resultados de exames laboratoriais como os que medem colesterol, triglicerídeos, glicose, nível da pressão, etc.
“Não dá para dizer que uma pessoa hipertensa nunca mais vai poder tocar num bacalhau. Se ela mantém suas taxas sob controle, pode liberar o bacalhau no Natal. Só não pode comer o peixe junto com o tender, a castanha, o peru. Em termos de alimentação, saber balancear é o grande segredo”, finaliza Barros.

Confira alguns alimentos que vivem oscilando entre os que fazem bem ou mal à saúde:

 

- Ovo: alguns trabalhos indicam que ele é capaz de retardar o Mal de Alzheimer e pode ajudar a melhorar a memória. A proteína do ovo não perde para a da carne, porém é rica em colesterol. Uma gema tem 213mg de colesterol, enquanto o recomendável é o consumo de 200mg. Quem não tem nenhum problema de colesterol pode ingerir até quatro ovos por semana.

 

- Café: as pesquisas são contraditórias no que diz respeito aos efeitos dessa substância para quem tem pressão alta, osteoporose ou osteopenia. Há estudos iniciais que indicam que ele pode prevenir diabetes e problemas cardiovasculares. Recomenda-se que o consumo não passe de três a cinco cafezinhos por dia.

 

- Chocolate: o meio-amargo, com 70% de cacau, pode reduzir a pressão arterial e controlar o diabetes. O ideal seria o consumo de 100 gramas por dia, mas isso equivale a quase 500 calorias e pode levar à obesidade. O recomendado é a ingestão de, no máximo, 40 gramas durante três vezes por semana. O tipo ao leite não tem os mesmos benefícios.

 

- Margarina, manteiga: de um modo geral, não são recomendadas. O ideal é consumir azeite no pão. A vantagem é que o azeite é rico em gordura monosaturada, que aumenta o HDL (colesterol bom) e modera o açúcar do pão. Ele é rico em antioxidantes, que controlam as doenças cardiovasculares, diabetes, cânceres e processos inflamatórios. A manteiga pode ser liberada no fim de semana para quem tem colesterol normal. Já para quem tem os níveis alterados, é preciso ter cuidado. Quanto às margarinas, alguns fabricantes dizem que seus produtos são sem gordura trans, mas não há uma fiscalização que comprove isso.

 

- Tomate: era considerado vilão pela semente que poderia dar cálculo renal. Isso já caiu por terra. Outra questão negativa associada ao tomate é que ele retém uma grande quantidade de agrotóxicos. A solução é lavar bem, tirar a pele ou comprar orgânicos. Hoje se sabe que ele é rico em licopeno, um antioxidante que atua principalmente na prevenção do câncer. Na forma crua, há uma menor absorção dessa substância. O ideal é usar o tomate como molho ou refogado. A goiaba e a melancia também são fontes de licopeno.

 

- Sal: ainda é um grande vilão se consumido em excesso, principalmente para quem tem pressão alta, doenças renais, problemas cardíacos e de visão. Há 1 ano e meio, a recomendação era de 6 gramas por dia, e o brasileiro consumia de 12 a 20 gramas. Hoje, o valor recomendado caiu para 5 gramas. É preciso cuidado com o saleiro na mesa, com as comidas industrializadas, os enlatados e os embutidos. A azeitona também é muito rica em sal.

 

- Nozes: é recomendável uma unidade por dia. Estudos mostram que mulheres que consumiram uma noz por dia tinham 35% menos chances de terem doenças cardiovasculares.

 

Fonte: Marcelo Barros, chefe de Nutrição do Instituto Nacional de Cardiologia.

                                        

 

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