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Coração valente

 

No épico de 1995, o filme Braveheart retrata a figura histórica do patriota escocês e herói medieval William Wallace. A ação situa-se em finais do século XIII, época em que os escoceses rebeldes lutavam contra o domínio de seu país pela Inglaterra sob o reinado de Eduardo I.

Ainda criança, após ter assistido à morte de seu pai pelos soldados ingleses, William é acolhido por um tio que lhe propicia uma educação esmerada e erudita. Depois de viajar pelo mundo, volta à sua Escócia natal e apaixona-se por uma jovem camponesa. Para escapar da deliberação real em que um senhor feudal inglês tinha direito a dormir com uma noiva no dia do seu casamento – direito de prima nocte – William casa-se secretamente. Contudo, a sua mulher é morta por um nobre inglês e, no decorrer da vingança, Wallace assume a liderança e comanda um pequeno grupo de camponeses armados com o intuito de lutar pela soberania da Escócia. Chega mesmo a derrotar o poderoso exército inglês na Batalha de Stirling Bridge, mas fracassa em conseguir o apoio dos nobres escoceses - líderes dos clãs, estes que estavam mais interessados em manter  suas regalias junto a coroa inglesa.

Apesar da ajuda da Princesa Isabelle, nora do rei inglês, Wallace é traído pelos nobres escoceses e acaba por ser aprisionado pelos ingleses. É torturado e executado em praça pública sem que nunca renegasse a legitimidade de sua luta.

Agonizando reuniu todas as suas forças e bradou uma única palavra em seu momento final: Liberdade!

A história desse personagem tem muito haver com a de tantos outros heróis, conhecidos e anônimos, de todos os tempos que detinham esse mesmo singular valor, o idealismo. Sim, essa incrível força nascida no  imo do indivíduo e que ao exteriorizar-se congrega inumeras outras pessoas que se irmanam para a conquista do objetivo comum, sempre visando o bem da coletividade.

 Desde priscas eras a história destaca a epopéia de pessoas comuns, mas que motivadas por um ideal foram impulsionadas, transformando-se em verdadeiros ícones de bravura, e invariavelmente provocaram sensíveis mudanças nos destinos de povos e até da própria civilização, mudando a história para melhor.

Quem não se recorda de Leônidas, com sua famosa frase: "Ótimo, assim combateremos à sombra" e que conscientemente deu sua vida em defesa da população de Esparta? E o que dizer da "virgem de Domremy-la-Pucelle – Joana d'Arc, heroína da Guerra dos Cem Anos, canonizada em 1920 tornou-se Padroeira da França dois anos depois, que acabou sendo condenada pela Inquisição e martirizada na fogueira com apenas 19 anos de idade? Joana d´Arc permanece como testemunha dos milagres que uma pessoa pode realizar, ainda que animada apenas pela energia de suas convicções, mesmo adolescente, pastora e analfabeta, de modo que seu exemplo guarda o valor universal do ideal que deve nortear a vida do ser humano. E tantos exemplos mais de bravura felizmente podem ser citados..., inclusive em nosso país!

Entretanto, em tempos atuais, a bravura intrépida – às vezes indomita, cedeu lugar a outro tipo de personagem, contudo não menos importante: quero destacar com especial deferência cidadãos comuns, homens e mulheres – de todas as idades -  que lutam no cotidiano de suas vidas para manter seus lares, suas famílias, muitas vezes ainda no frescor da juventude ou já no outono de suas vidas, como arrimo para garantir a subsistência de pais e irmãos.

Quantos desdobram-se entre o trabalho e o estudo a fim de conquistarem os necessários conhecimentos e habilitação para exercerem a profissão de seu ideal: médicos, advogados, engenheiros, arquitetos, professores, militares, dentistas, pedreiros, secretárias, eletricistas, bombeiros, policiais, políticos... Todos contribuindo com sua parcela para o engrandecimento da sociedade; entretanto ao aquilatarmos bem, efetivamente assim o fazem apenas aqueles que possuem dentro de si, pulsando, os mesmos ideais que não se restringem ao egoísmo focado em objetivos personalíssimos da obtenção de bens materiais e de poder, mas estendendo o pouco ou o muito que tiverem conquistado a todos quantos puderem beneficiar, estendendo as mãos àqueles que mais necessitarem... Dividindo para multiplicar tanto o material quanto o espiritual e, especialmente, o amor que constroi e que não sobrevive solitariamente sem ser manifestado e exteriorizado por meio da materialização de atitudes e ações que dignifiquem a quem dá e a quem recebe. Assim como nos foi ensinado e exemplificado há cerca de dois mil anos pelo meigo Rabi da Galiléia.

Aproveitemos as oportunidades que nos são dadas para o enriquecimento de nossa essência, nossos espíritos, agregando a eles os valores maiores que se constituem em perene "bagagem", dentre os quais a conquista dos justos ideais – lastreados nos bons e fraternos propósitos – e o empenho para alcançá-los, muitas vezes com denodado sacrifício pessoal.

Lembremos que à cada dia desponta um novo alvorecer e com ele um nova oportunidade que o Senhor da Vida nos oferece..., não as desperdicemos.

A felicidade se encontra na doação, mais precisamente nas obras que tivermos realizado com amor e que tenham minorado sofrimentos, garantido a liberdade individual e proporcionado alegria e satisfação aos irmãos ao nosso derredor, especialmente àqueles que dividem conosco o aconchego familiar.

Estes são os "corações valentes" de hoje, todos os que são conscientes e responsáveis para consigo próprios tendo em vista o horizonte mais amplo da vida, que se esforçam para agregar valores perenes de amor fraterno, espargindo-os, e que lutam para assegurar o progresso plural e o desenvolvimento da família humana, desde sempre!

 

 

19 de abril de 2011

 

 

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