07/07/2011 - 14h00

Por falta de estrutura, IML destrói provas de assassinato em Alagoas

Aliny Gama e Carlos Madeiro
Especial para o UOL Notícias
Em Maceió

Por falta de uma sala especial para armazenar material orgânico, o IML (Instituto Médico Legal) de Maceió destruiu, há duas semanas, provas consideradas importantes de um crime que chocou o Estado --a morte por enforcamento da estudante universitária Giovanna Tenório.

O lençol onde o corpo da universitária estava enrolado e a roupa que ela usava quando foi morta foram incinerados, e exames de comparação com material apreendido com os acusados do crime não poderão ser realizados. O fato só veio à tona nesta quarta-feira (6), após a apreensão de material na casa das acusadas do crime.

O diretor do IML de Maceió, Gerson Odilon Pereira, alegou que o instituto não possui estrutura para armazenar material orgânico. Ainda segundo ele, o material do caso Giovanna poderia ter sido armazenado provisoriamente, mas nem a polícia, nem o Instituto de Criminalística pediram para que eles fossem preservados -- por isso houve a destruição.

"Não foi o IML quem descartou, mas sim os próprios peritos que fizeram a necropsia do corpo de Giovanna. O material ficou nas bombonas usadas para transportar o material orgânico, que é descartado pelo IML dois ou três dias depois, quando é incinerado. Então, se algum delegado achasse que o material deveria ser guardado, estava lá por esse período. Era só ir lá e recolher", explicou, citando que o material foi descartado por estar com larvas e fedendo.

Falta estrutura, reconhece IML

O diretor do IML reconheceu ao UOL Notícias que o prédio onde funciona o órgão não tem estrutura para guardar material orgânico. Pereira reconheceu que o local apresenta problemas graves de funcionamento, já que não foi construído especificamente para os trabalhos do instituto.

"Realmente não temos essa sala para guardar material orgânico, como o material descartado no caso Giovanna. O prédio do IML não é adequado para realizamos o nosso trabalho. Aqui funcionava uma antiga faculdade de medicina, mas o governo do Estado já está trabalhando para construção de um novo prédio. O projeto já está pronto, com terreno adquirido também, aguardando os trâmites finais para abrir o processo licitatório de construção", disse o diretor do IML, ressaltando que no novo prédio haverá uma sala específica para acomodar os materiais que podem ser utilizados como prova em investigações. A previsão é de que o novo prédio seja entregue no segundo semestre de 2012.

Pereira ainda ressaltou que o IML tem como norma guardar apenas material de crimes que envolvem casos de estupros, morte por envenenamento e ferimentos por arma de fogo. "Já estamos com uma parceria com o Lacen [Laboratório Central de Alagoas] para que ele analise os materiais que são usados em provas criminais", apontou.

Advogados criticam incineração; MP espera inquérito

O descarte das peças de investigação causou protesto tanto da família da vítima, quanto na defesa dos acusados. O Ministério Público também informou que vai aguardar o fim do inquérito para saber se o delegado do caso vai apontar se a destruição das provas causou prejuízo às investigações. Caso isso ocorra, os responsáveis pela incineração podem ser responsabilizados judicialmente.

O delegado do caso, Francisco Amorim Terceiro, informou, logo após a sua indicação para comandar o inquérito, que só iria se pronunciar sobre o caso ao fim das investigações.

Contratado pela família de Giovanna Tenório, o advogado Welton Roberto não poupou críticas ao descarte do material. "Achei de um amadorismo imperdoável e mostra também uma falta de comprometimento com a investigação. Eles sabiam que era um crime, por que não guardaram? Todos nós tememos porque qualquer indício ajuda", disse ao UOL Notícias.

O advogado de defesa do casal, Rodrigo Ferro, também condenou a falta do material. "Há muita coisa que poderia ser colhida daquele material. Se precisarmos de uma contraprova, por exemplo, não poderemos ter mais", disse ele, em entrevista nesta quarta-feira à TV Gazeta.

O assassinato da estudante

A estudante do curso de fisioterapia Giovanna Tenório, 28, foi encontrada morta no dia 6 de junho, quatro dias após ser vista pela última vez saindo do Centro de Ensino Superior de Maceió. Ela iria almoçar com um amigo, mas não foi mais localizada.

O corpo da jovem estava em um terreno baldio do município de Rio Largo, na região metropolitana de Maceió. O casal Antônio Bandeira, com que Giovanna teve um caso, e Mirela Granconato é acusado do crime. Os dois foram presos na casa onde moram, também em Rio Largo, no último dia 28 de junho, alegaram inocência e prometem comprovar, por meio de álibis, que não participaram do assassinato.

Um caminhoneiro também foi detido, no dia 30, por estar com o celular da estudante e também negou envolvimento no crime, afirmando que comprou o aparelho em um posto de combustíveis.

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