Art&MusicaLSlides® "Ternura II" - Ligue o som!
Ternura II
"Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás"
"Há que endurecer-se, mas sem jamais perder a ternura"
Ainda quando no gozo dos felizes anos de minha adolescência – Ah, quanta saudade! – sempre admirei os muitos exemplos de retidão, do denodado esforço ao trabalho, do caráter bem enraizado e, especialmente, do idealismo, marca indelével comum aos meus avós – tanto do lado materno quanto paterno. Na verdade esses atributos foram herdados da cepa a que pertenciam e da qual tenho imenso orgulho de também dela fazer parte.
Não obstante essa "firmeza", que à primeira vista poderia suscitar uma postura intransigente e por demais "dura" ao relacionamento interpessoal, eles cultivavam generosa ternura em seu comportamento; perfil diametralmente oposto à uma equivocada imagem inicial de eventual soberba.
A cultura de então – entenda-se valores morais – era muito diversa daquela observada nos "tempos modernos"... Tristemente para nossa atualidade.
Nessa época, assim como os demais jovens, fomos levados a ser "conquistados" pela figura imponente, desinteressada (como é próprio aos idealistas), bravo e valente de Ernesto "che" Guevara.
Sua imagem caricaturizada, em uma só cor – ao estilo Andy Warhol, com uma boina ostentando uma única estrela ao centro e tendo abaixo o famoso dito acima mencionado, era disputada entre todos como símbolo de uma geração – não revolucionária, contudo, mas que também cultivava os valores do idealismo – como era próprio aos adolescentes de minha época; será hoje ainda assim ?
Todavia, nunca me senti muito à vontade com a verdadeira postura do aventureiro argentino que as notícias da época nos apresentavam em face da frase que lhe fora atribuída – sobressaltava-me enorme contrassenso.
Busquei, lastreado nos valores de minhas raízes uma explicação plausível.
Destarte "entendi" que a frase – quase um dístico – que encerrava em si tanta importância, realmente se imporia a quem exerce o poder de fato. Um homem no exercício do cargo político máximo de uma nação deve amar o seu povo, a sua gente; seus atos devem conduzir os cidadãos ao êxito, a uma vida digna com iguais oportunidades de conquista do sucesso e realização pessoal, a satisfação de constituir e criar uma família sobre bases sólidas de cultura, sob o amparo da justiça, com acesso à educação, à saúde, à segurança pública, norteados pelo respeito ao próximo, pela solidariedade aos indivíduos em geral e à sua família social.
Enfim, acabei por concluir em minha visão singela de adolescente que para um governante atingir esses objetivos, em contrapartida, ele deve ser duro contra os interesses individuais de feudalismo do capital, com os roedores dos meios produtivos, com os vampiros do erário, corruptos e corruptores, e com a concentração privilegiada de conhecimentos que comprometa os instrumentos de desenvolvimento do intelecto de cada cidadão e da coletividade. Por essa razão deve ser duro contra todos os modelos – e seus defensores – que sejam antagônicos à plena liberdade proporcionada pelo regime democrático e aos propósitos inerentes à responsabilidade que lhe foram delegadas para exercer o governo de forma ilibada e com absoluta honradez.
Esse raciocínio tranqüilizou-me. Contentei-me por hora.
Os anos foram se sucedendo e o tempo passando, as nações se transformando, o mundo político se alterando e o véu que encobria a realidade do dia-a-dia em países até então absolutistas foi sendo descerrado, e a verdadeira história emergiu de muitos porões ditatoriais.
Relembremos, portanto, um breve resumo da grotesca e impiedosa afoiteza do "ídolo com pés de barro" - "che" Guevara:
Ernesto Guevara Lynch de
Encontrou-se com Fidel Castro no México, em 1955, onde aprendeu técnicas de guerrilha. No ano seguinte, participou do desembarque em Cuba do pequeno contingente de revolucionários, sob o comando de seu amigo "El Comandante". Depois de dois anos de combates, a partir de Sierra Maestra, Fidel tomou o poder em Havana. Che ocupou-se primeiro dos fuzilamentos – muitos dos quais executados por ele mesmo, e depois, da economia – no cargo de ministro, assunto do qual nada entendia. José Illan, que foi vice-ministro de finanças antes de fugir de Cuba, contou que o argentino "desprezava os técnicos e tratava a nós, os jovens cubanos, com prepotência".
Como Presidente do Banco Nacional e Ministro da Indústria, Che começou a nacionalizar a indústria e foi o principal defensor do controle estatal das fábricas. "Che era um utópico que acreditava que as coisas poderiam ser feitas usando-se apenas a força de vontade", diz o historiador Pedro Corzo, do Instituto da Memória Histórica Cubana,
Em 1963, em estado de penúria, a ilha passou a viver da mesada enviada pela então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS.
Fidel, por sua vez, farto da incompetência e dos malfeitos de seu apadrinhado portenho queria livrar-se do arrogante e sanguinário transtorno. A oportunidade surgiu e "El Comandante" estimulou sua ida para o Congo, na África e posteriormente para a Bolívia, onde ele veio a morrer em outubro de 1967 depois de estar totalmente desacreditado por seus homens e pelos próprios revolucionários bolivianos que insurgiram-se contra o "che", entregando-o – eles próprios – às forças governamentais bolivianas.
Pesquisei então como uma frase de tamanho impacto poderia ter sido esculpida por um ser tão ignóbil quanto fracassado em todas as iniciativas que teve em sua vida. Um barbudo malcheiroso fumador de charutos que andava armado e matava sem piedade os que atravessavam o seu caminho poderia falar de ternura ? É evidente que não!
Deparei-me então com "os dedos dos publicitários" a serviço do extinto Kremlin!
Sim, a frase fora criada – assim como a imagem que pretendia fosse mitificada – pela propaganda esquerdista num período em que os "blocos" comandados pelos Estados Unidos de um lado, e pela extinta União Soviética do outro, digladiavam na então chamada "guerra fria".
Aí estava a resposta à aberração: o oportunismo de criar e "vender" ao ocidente um mito, "um idealista sul americano defensor intransigente dos oprimidos pelo imperialismo norte-americano".
"! Viva
Voltei à palavra ternura e ao pronunciá-la mentalmente senti que estampava um leve sorriso em meus lábios.
Sim, a ternura nos enleva e nada tem haver com sentimentos menores, não se coaduna com o poder ou com qualquer outro interesse efêmero, temporal.
A ternura só existe quando associada ao amor, com o amor maiúsculo, substantivo, que constrói e que deve permear por entre todos os seres humanos, assim como nos tem sido ensinado por luminares em todas as épocas de nossa história – e especialmente exemplificado por Jesus. Trata-se de um atributo que enseja a paz, a fraternidade, o perdão e a doação incondicionais; e que num futuro, mais ou menos distante – a depender exclusivamente de nós próprios, com ela iremos conviver..., não mais como adjetivo complementar destinado à vã utopia de tentar explicar com frases brandas a rudeza ainda existente em nossos espíritos, mas no substantivo norteador das relações humanas, juntamente com a força maior do universo, o amor!
21 de novembro de 2010
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