BAlelA - ARte e cULTurA Espírito de Kelly eo Disque-Amizade Sobrenatural
Espírito de Kelly e o Disque-Amizade Sobrenatural
Durante a minha infância e adolescência sofri bullying. No primário caçoavam de mim por ser feia e ter dificuldades de aprendizagem. Já na adolescência, meus colegas pegavam no meu pé porque eu era gordinha e cheguei a pesar oitenta quilos. Tais traumas fizeram com que eu tivesse um excesso de timidez no final da adolescência, que foi no início dos anos noventa. O retraimento era tanto que eu não conseguia andar de cabeça erguida na rua, nem sequer fazer compras num mercado e muito menos olhar as pessoas nos olhos. Pois, eu tinha a sensação de que os seres humanos iriam caçoar de mim. Naquela época todas as minhas amigas saiam para bailes, festas e tinham namorados. Como eu tive a educação muito rígida, eu era proibida de ter este tipo de vida social. Então eu entrava em depressão e chorava bastante. Mesmo assim eu sonhava em ter um namorado, mas por ser tímida e estar fora dos padrões de beleza não tinha coragem de me aproximar de nenhuma criatura do sexo masculino. Uma vez dentro do ônibus, vi duas senhoras conversando: uma era loira e a outra morena. A mais clara disse assim para a amiga: - Consegui um jeito de tirar a minha timidez. A escura comentou: - Que ótimo! - Que jeito foi este? Assim a loira explicou: - Descobri um serviço telefônico onde é possível conversar sobre coisas íntimas, mantendo a identidade em sigilo. O nome desta maravilha é Disque-Amizade e o número é 145. Lá você pode usar qualquer pseudônimo e falar abertamente sobre assuntos picantes. - Conversando com o pessoal de lá até me esqueço que sou obesa. Pois, neste Tele-Amizade invento que sou magra e muito sensual. Logo, pensei: - Será que este serviço telefônico é este esplendor, todo? - Bem, estou curiosa para experimentar. No dia em que a minha família sair de casa, acho que ligarei para lá. Assim, que a casa ficou vazia disquei para este Tele-Amizade. Quando escutei a primeira voz humana perguntando o meu nome, usei a primeiro pseudônimo que veio na minha cabeça: Kelly. Na hora em que indagaram como eu era fisicamente, eu descreva a aparência que minha personagem deveria ter para ser uma dama desejada. Desta maneira eu mentia que era loira, de olhos azuis, alta e magra. Espiritualmente eu fingia ser desinibida e liberal neste Disque-Amizade Então, eu falava sobre coisas quentes pelas ondas do telefone, assuntos que eu nunca teria coragem de conversar com um estranho na vida real. A partir daquele dia, eu passei a ligar para o 145 toda a vez que podia, sempre com o pseudônimo de Kelly e com a descrição física da primeira ligação. Porém fenômenos estranhos passaram a ocorrer comigo a partir daquele dia, algumas semanas após incorporar Kelly ao telefone, eu passei a andar de cabeça erguida na rua e não tinha mais constrangimento a ir à padaria e comprar pães. Além disso, eu passei a olhar as pessoas dentro dos olhos. Seis meses depois, tive um pesadelo: Eu estava em frente a um espelho, que nem sequer existia no meu quarto naquela época. Então, a minha imagem começou a se modificar radicalmente. O meu cabelo castanho passou a ser loiro, meus olhos escuros ficaram azuis, minha pele cheia de espinhas tornou-se perfeita, meu corpo obeso ganhou silhueta magra e o meu conjunto de moletom virou um vestido branco comprido que as mulheres usavam no século dezenove. De repente, eu me tornei outra pessoa. Deste jeito, perguntei: - Quem é você? A mulher do espelho respondeu: - Eu sou a Kelly que você chama toda a vez que seus pais saem de casa. - Não se preocupe.Pois, por me trazer de novo à vida carnal, melhorarei a sua aparência. Deste jeito, perguntei: - Como assim? Ela falou: - Retribuirei você, pois não sou uma pessoal mal agradecida. Daqui a pouco você emagrecerá aos poucos, encontrará um meio de comprar cremes caros para acabar com suas espinhas, mesmo não tendo dinheiro, e ganhará roupas bonitas. - Mas, o melhor ainda está por vir: você ficará menos tímida e saberá seduzir algumas pessoas com palavras quentes. Eu comentei: - Desculpe, mas eu não estou entendendo nada. - Afinal, quem é você? Kelly disse: - Sou uma mulher libertina do século dezenove, adoro branco, amo festas e tive muitos amantes. Desta maneira, eu perguntei: - Você foi uma prostituta? A mulher fez cara de braba e exclamou: - Mais respeito comigo, menina! - Cuidado, pois eu já machuquei muita gente. Fui muito explosiva quando era viva. - Eu não fui uma pobre prostituta. Eu fui uma cortesã muito rica e feliz. Tanto que tenho muitas saudades da minha vida aqui na Terra, coisa que tenho certeza de que você nunca sentirá. - Seja boazinha comigo, eu vim aqui para curar a sua depressão. Após falar estas palavras, Kelly foi embora e eu acordei com a mesma aparência de sempre. Porém, a partir daquele dia, pouco a pouco, minha personalidade foi mudando. Pois, eu já conseguia falar com estranhos nas ruas e olhar nos olhos de todas as pessoas. Ao completar dezoito anos de idade, fui emagrecendo pouco a pouco, comendo a mesma quantidade de comida. Naquela mesma época, passei a ganhar roupas bonitas da minha tia e dei um jeito de comprar cosméticos para melhorar a minha pele. Então eu me perguntei: - Será que Kelly cumpriu tudo o que prometeu? - Espíritos que se manifestam pela vontade de vivos, existem? Aos dezenove anos entrei em depressão porque não estava satisfeita com o curso universitário onde estava e trabalhava como professora, profissão para a qual nunca tive dom. Naquela época a diretora do colégio onde eu trabalhava me chamava de burra pelos simples fatos de eu não saber desenhar e nem conseguir manter o controle de turma. Por causa destes problemas, tentei o suicídio, numa vez em que meus parentes saíam de casa. Peguei uma corda para me enforcar numa árvore do quintal. Mas, na hora de puxá-la para a morte fatal, fechei os olhos e a corda quebrou-se sozinha, como se alguém tivesse a cortado com uma tesoura. Portanto, não consegui me suicidar. Naquela noite sonhei com Kelly que disse: - Se depender de mim você não morre tão cedo. Fui eu quem impediu o suicídio cortando a corda. Aos vinte e três anos tive outro sonho semelhante: Kelly me levou para a casa colonial onde morava. Ela tinha um guarda-roupa só com roupas claras, a maioria era branca. A moça também tinha uma coleção de chapéus, a penteadeira dela era toda branca e lá fora havia um jardim com rosas. Aos vinte quatro anos eu ainda ligava para o Disque-Amizade. Até que um dia a conta veio alta demais, minha família desconfiou que havia algo errado e pediu explicações para a operadora telefônica. Assim esta firma explicou que a preço veio alto, pois existiam muitas ligações para o Disque-Amizade. Deste jeiro minha família brigou comigo e eu nunca mais liguei para este número. Eu queria esquecer Kelly, mas toda a vez que eu sorria e me soltava parecia que ela estava perto de mim. Em 2011 eu estava, em casa, sorrindo sem motivos e senti a presença de Kelly. Assim passei pela minha mãe que estava na sala. Naquele momento ela exclamou: - Acenda uma vela, pois tem um espírito atrás de você. Logo, pensei: - Depois de tantos anos, por que só agora minha mãe sentiu a presença desta alma? Mesmo assim, acendi uma vela. Em fevereiro de 2012, Kelly apareceu no meu sonho pedindo para que eu escrevesse sobre esta experiência sobrenatural. No princípio, eu fiquei com medo de redigir algo que chocasse os meus leitores. Porém, Kelly me perturbou tanto, que resolvi estudar uma maneira de escrever um conto sobre este acontecimento. Luciana do Rocio Mallon
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