Art&MusicaLSlides® Aureci - "GETULIO VARGAS pede empréstimo a amigo..."
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ANO 117 Nº 330 - PORTO ALEGRE, SÁBADO, 25 DE AGOSTO DE 2012
Getúlio pede empréstimo
Crédito: ARTE
Lauriane de Castro estuda na Faculdade de Comunicação da PUCRS. Esteve na minha sala. Colocou em cima da mesa um documento, um original, redigido a mão por Getúlio Vargas. Atiçou a minha curiosidade. A carta de Getúlio, escrita em 3 de dezembro de 1948, dirigida a Geromil de Castro, avó de Lauriana, tinha por objetivo pedir um empréstimo. Chama atenção o tom coloquial: "Um assunto um tanto ''chato'' é que me traz". Vargas lembra que o amigo, ligado ao PTB, havia lhe oferecido ajuda: "Agora estou outra vez no aperto, precisando completar uma importância e lembrei-me de recorrer àquele teu oferecimento. Caso seja possível, quero que empreste-me CR$ 10.000,00 (dez mil) por 30 dias, com juros, etc.".
Em 1948, Vargas estava vivendo o seu autoexílio na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. A carta revela aspectos interessantes. Em primeiro lugar, claro, as dificuldades financeiras do fazendeiro: "Por aqui, isso é difícil de conseguir-se. Os bancos não fazem, ainda mais quando a garantia é avião e os amigos não aparecem". O homem que mandara no Brasil durante 15 anos estava isolado: "Ao Jango não quero pedir, pois já tem me ajudado muito. Espero que compreendas esta minha atitude e deste assunto guardes reserva. Na hipótese de poder atender-me, peço passar-me um fonograma ainda hoje avisando-me, que irei aí imediatamente, que tenho muita pressa de resolver este caso". Fica demonstrada a importância do jovem João Goulart na vida de Vargas, retirado
Outro aspecto chama atenção. Getúlio termina a carta assim: "Meu endereço: rua Dona Laura, 485, apt 3 - telefone 2-1276". O exilado, pelo jeito, saía, vez ou outra, dos seus confins para se refrescar socialmente na capital gaúcha. Ontem, 24 de agosto, faz 58 anos que Vargas se matou. Em meu livro, "Getúlio", abordo alguns problemas que ele enfrentou quando precisou sair da fazenda Santos Reis e instalar-se
Andei examinando datas de homenagens a Getúlio em nomes de ruas, praças, escolas ou cidades. Quase sempre as homenagens datam do período entre 1930 e 1934 ou posterior a 1954. Não se homenageia o ditador, mas o revolucionário de 1930 ou o presidente nacionalista levado ao suicídio pela imprensa golpista liderada por Carlos Lacerda em 1954. Comecei a fixar um quatro comparativo entre as realizações de Getúlio Vargas e de Humberto de Alencar Castelo Branco. Parei para não humilhar demais o ditador que jamais passou no teste das urnas. A carta de Getúlio a Geromil revela um homem na plenitude das suas contradições. Mostra também que todo poder passa e que toda glória é vã. Resta saber pedir.
Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br
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