Art&MusicaLSlides® Milton Medran - "Coluna de 6 de novembro - Diário Gaúcho"
DIA DE FINADOS, ONTEM E HOJE * Quem fosse visitar o cemitério passava, necessariamente, pela minha rua. Na minha cidade, em Dia de Finados, todo mundo ia ao cemitério. Assim, toda a cidade passava por minha rua no Dia de Finados. E passavam com ar muito grave, vestidos geralmente de preto contrastando com o colorido das flores que enfeitariam, por alguns dias, os túmulos de seus entes queridos. Na rádio local, onde tive meu primeiro emprego como locutor (naquele tempo ainda se dizia "speaker"), no Dia dos Mortos, e também na Sexta-Feira da Paixão, só se tocava música clássica. Lembrei-me disso tudo no feriadão do Dia de Finados que este ano caiu numa sexta-feira, fazendo mais longo e mais festivo o fim-de-semana. Com certeza, muito menos pessoas deixaram de viajar, ir à praia, visitar a Feira do Livro ou participar de algum show, para ir a um cemitério. A cada ano, deve estar diminuindo a frequência a cemitérios. Até porque, pouco a pouco, optamos pela cremação em vez de sepultamentos. Desrespeito aos mortos? Não penso assim. Melhor compreensão do fenômeno da vida, talvez. Estamos todos começando a entender que a morte nada mais é do que uma estação da vida. Respeitar nossos entes queridos que já partiram não exige que tenhamos, todos os anos, e num dia certo, de derramar um rio de lágrimas em suas sepulturas. Como recomendou Emmanuel, melhor do que nos determos na terra, será contemplar os céus em que mundos inumeráveis nos falam da união sem adeus. Assim, seremos capazes de escutar a voz deles em nosso coração. E essa voz nos dirá, onde estejamos, que eles, nossos queridos de ontem e de hoje, não caminharam na direção da noite ou do nada, mas sim ao encontro de um novo despertar. A vida continua, além, muito além das sepulturas. * Milton
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