Art&MusicaLSlides® "O bonde não pára"
04/12/2012
às 14:51 \ Feira Livre
'O bonde não pára', por J.R. Guzzo
PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA DE VEJA
Que sina infeliz é essa que parece perseguir sem descanso o ex-ministro, ex-deputado e ex-todo-poderoso José Dirceu? O homem não tem sossego. Passou a vida inteira numa luta desesperada para chegar ao poder: quando chegou, enfim, não conseguiu ficar lá mais que dois anos, quando foi jogado para fora sem a menor cerimônia pelo ex-presidente Lula, em quem tinha apostado até seu último tostão. Tudo dá errado para ele. Lula, conforme os fatos não param de provar, trouxe para o centro do governo brasileiro, dez anos atrás, uma tropa de batedores de carteira como raramente se viu neste país: qualquer exame de laboratório mostra que está aí, quando se raspa o verniz da propaganda, o DNA de sua passagem pela política nacional. Esse bonde não para. Começou a andar em 2003, antes de se completar o primeiro mês do governo Lula, com a dupla Marcos Valério-Delúbio Soares já funcionando a toda na montagem da coleção de crimes à qual se deu o nome de mensalão. Continua andando até hoje: sua última aparição é neste miserável escândalo dos "bebês de Rosemary", episódio que serve como uma das melhores fotografias jamais tiradas do dia a dia da governança petista, tal como ela é na vida real. Mas a verdade é que vivemos num mundo imperfeito. Lula conserva seus belos 100% de popularidade, já é apontado como o próximo governador de São Paulo e continua sendo considerado por seus admiradores como o homem mais perfeito que o mundo conheceu desde Adão e Eva. Já o seu sócio Dirceu, que não fez nem mais nem menos do que ele, hoje é apenas um cidadão condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, com uma sentença de onze anos de cadeia nas costas. Mal pode sair à rua. Sua prioridade, no momento, é tentar manter-se do lado de fora do sistema penitenciário.
A última coisa de que Dirceu precisava, a esta altura, era mais um caso de ladroagem no governo ─ mas é justamente o que acaba de lhe acontecer, ao ver seu nome metido logo na cena inicial do escândalo do dia. A Rosemary dessa história é uma certa Rosemary Nóvoa de Noronha, chefe do gabinete da Presidência da República
Quem diz Rose diz Lula, mas sobrou, como de costume, para José Dirceu. Mal se falou o nome dessa nova heroína do PT e já vinha junto o carimbo "J.D." ─ a moça trabalhou doze anos na copa e cozinha de Dirceu, e foi ele o primeiro protetor a quem Rose telefonou quando apareceu a polícia. Desta vez o ex-homem forte nem teve ânimo para fingir que continua forte: disse apenas que não podia ajudar
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