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Lendas do Presépio das Lojas Hermes Macedo

 

Em Curitiba, entre os anos 70 e 80, uma loja chamada Hermes Macedo tinha o presépio mais famoso da cidade. Na verdade, eram vários presépios dentro de um único espaço. Pois, lá, existiam várias representações do nascimento de Jesus em diversos materiais e estilos como: presépio de gesso, de mosaico, de cristal, de barro, de vidro, de plástico, de madeira, etc. Na realidade, eram vários presépios numa única cidade: o último andar das lojas Hermes Macedo. Há boatos que, no começo, eram os próprios donos que compravam os diversos presépios, mas depois eles passaram a receber das pessoas diversos bonecos da representação do nascimento do menino Jesus.

Porém, tão mágicas como estas exposições todas, eram as lendas que surgiram neste local. Leremos algumas abaixo:

 

A Idosa Que Sonhava em Ser Anjo:

Em 1973, Dona Naná era uma senhora meiga, que morava num asilo de Curitiba localizado num bairro chamado Juvevê. Lá, ela manifestava o tempo todo o seu desejo de ser um anjo. Então, a velhinha costurava roupas e asas angelicais para andar na casa de repouso. Seu quarto era decorado com anjos feitos de diversos materiais e antes de dormir ela sempre rezava a oração Santo Anjo.

Em novembro, daquele mesmo ano, a loja Hermes Macedo estava preparando a sua tradicional decoração de Natal, que incluía a famosa cidade dos presépios. Porém, quando uma das funcionárias estava arrumando os enfeites, notou que o anjo da porta de entrada estava sem a cabeça, então a moça relatou o caso a sua chefe, que mandou procurar a peça do boneco que estava faltando. Mas, a jovem não conseguiu achá-la e mesmo assim o anjo sem a cabeça permaneceu na entrada.

O tempo passou e dezembro chegou. Então, a freira que era diretora do asilo, decidiu levar as velhinhas para visitarem os presépios das Lojas Hermes Macedo. Chegando ao local, Naná viu o anjo sem cabeça e exclamou:

- Nossa!

- Que anjo lindo!

- Pena que não tem a cabeça!

- Como eu gostaria que o rosto deste querubim de Natal tivesse meus traços.

- Se eu fosse um anjo natalino, eu realizaria todos os desejos das crianças pobres que o Papai-Noel não pôde realizar.

Naquele instante, uma artista plástica, escutou as palavras de Naná e disse-lhe:

- Sou artista plástica e posso realizar este seu sonho.

- Por isto, falarei com os gerentes da loja para esculpir o rosto deste anjo sem cabeça.

Desta maneira, a idosa ficou radiante. Alguns dias depois, a artista plástica foi à casa de repouso para esculpir o rosto de Naná. Porém, a obra só ficou pronta no começo de 1974. Mas, quando chegou outubro a escultora entregou a cabeça do anjo para a loja, que consertou o enfeite. O problema é que naquele mesmo mês, Naná pegou uma forte pneumonia e, no hospital, antes de morrer, ela disse para a diretora do asilo:

- Morrerei hoje e virarei o anjo do presépio de Natal só para realizar os pedidos, das crianças pobres, que o Papai-Noel não consegue.

Após estas palavras, a senhora faleceu. Os dias se passaram e em novembro foi aberta as cidades dos presépios das Lojas Hermes Macedo. Então, o anjo com o rosto de Naná foi colocado na porta. Alguns dias depois, uma menina carente entrou na loja, pegou uma boneca, começou a chorar e disse para ela mesma:

- Que pena que o Papai-Noel não tem dinheiro para comparar um brinquedo destes para mim.

Naquele instante, ela escutou uma voz que falou:

- O Papai-Noel pode não ter grana para realizar o seu desejo, mas o anjo do Natal tem.

A garota olhou para trás, viu uma velhinha vestida de querubim e disse:

- Nossa!

- A senhora é parecida com o anjo que tem na recepção.

Desta maneira, Naná explicou:

- Eu tenho dinheiro e quero comprar esta boneca para você.

Desta maneira o sonho da menina foi realizado.

Reza a lenda que o querubim da cidade dos presépios das Lojas Hermes Macedo já realizou o sonho de muitas crianças até 1992, quando a loja foi fechada.

 

O Presépio Que Fugiu Para a Loja:

 

Nos anos 80, havia um menino chamado Douglas, que morava na cidade de Curitiba, num sobrado, no bairro denomiado: São Francisco.O problema é que os pais deste garoto eram ateus, por isto eles não permitiam que seu filho rezasse e nem que trouxesse imagens de santos para casa. Douglas gostava de correr pela residência. Porém, havia um local que estava sempre trancando: o sótão. Um certo dia, ele perguntou a Moacir, seu pai:

- Papai por que o sótão está sempre trancado?

Então, o homem respondeu:

- Porque lá só tem coisas de adulto.

Esta resposta deixou o pequeno mais curioso ainda. A partir deste dia, ele passou a observar os locais onde seus pais deixavam as chaves. Deste jeito, o menino notou que seu pai tinha um chaveiro, que era guardado sempre numa gaveta da cozinha. Uma vez, seus pais saíram para um jantar demorado de negócios e a empregada estava distraída recebendo seu namorado na edícula de trás. Assim, o menino aproveitou a situação, pegou o chaveiro e foi experimentando chave a chave na porta do sótão, até que abriu o local. Lá, Douglas viu que existiam coisas muito antigas, como relógio-cuco, ferro de carvão, etc. De repente, o garoto olhou para cima e viu uma caixa grande vermelha com listras verdes. Desta maneira o menino subiu numa velha escada de madeira, pegou o objeto e abriu. Então, ele viu que dentro da caixa, havia personagens de um presépio. De repente, a vaquinha do presépio falou:

- Obrigada por nos libertar!

- Pertencíamos a sua falecida bisavó, que era uma santa mulher e estávamos presos aqui há cem anos.

Douglas, assustado, disse:

- Você fala?

- Eu pensava que vaquinha de presépio só soubesse dizer sim com a cabeça.

Desta maneira, ela explicou:

- Alguns personagens deste presépio falam, pois ele é mágico. Porém, nosso sonho é sermos expostos em uma casa, ou, loja para que o Natal nunca perca o seu verdadeiro sentido: o nascimento de Jesus.

O pequeno explicou:

- Eu gostaria muito de ter um presépio em minha casa. Mas, meus pais são ateus e não aceitam imagens de santos aqui, então duvido que eles gostassem de ver uma representação do nascimento de Jesus em sua própria residência.

De repente, um dos reis magos interrompeu a conversa:

- Eu sou Baltazar, um dos reis magos e como domino a arte da adivinhação, soube através de consulta aos oráculos, que há uma loja chamada Hermes Macedo, onde existe a cidade dos presépios e, que por isto, seríamos muito bem recebidos lá.

- Será que você poderia dar uma olhada nesta loja?

O garoto comentou:

- Sim, como moro perto do centro, vou agora mesmo verificar esta famosa cidade dos presépios das Lojas Hermes Macedo. Também, aproveitarei esta ocasião para tirar uma cópia desta chave, já que crianças são proibidas de entrar aqui no sótão.

- Então, amigos, fiquem quietinhos aqui que já volto.

Douglas foi até a loja, entrou na cidade dos presépios e ficou encantado com o que viu. Assim, ele avistou uma funcionária e perguntou:

- Será que posso doar mais um presépio para esta cidade encantada?

A moça respondeu-lhe:

- Pode, sim.

- Mas, seus pais sabem disto?

- Pois, menores só podem realizar a doação se estiver acompanhado de um adulto.

O garoto ficou assustado e saiu correndo. No meio do caminho ele teve uma idéia:

- Como meus pais demorarão para chegar a casa hoje, pegarei o presépio e entrarei escondido na loja.

Desta maneira, o menino pegou a caixa com os personagens, foi até a loja e viu que homens estavam entregando caixas de papelão para o departamento do estoque. Então, Douglas entrou em uma das caixas e foi colocado para dentro da loja. O menino esperou o estabelecimento fechar, saiu da caixa, dirigiu-se até a cidade dos presépios e colocou seus amigos em um local agradável, que havia dentro dela. Deste jeito, seus amigos conseguiram fazer parte daquela cidade encantada. De repente, o pequeno escutou passos e escondeu-se atrás de uma enorme árvore de Natal. O segurança perguntou:

- Quem está aí?

Como ninguém respondeu, o vigia desceu os andares com sua lanterna.

No dia seguinte, uma das zeladoras, achou Douglas dormindo atrás da árvore de Natal e perguntou-lhe:

- Quem é você?

- Você dormiu aqui?

O garoto assustado, permaneceu em silêncio. Assim a mulher levou a criança até a sala da gerência e a secretária telefonou para a polícia. Naquele instante, duas funcionárias entraram na recepção da gerência e uma disse para a outra:

- Você viu que um sobrando no bairro São Francisco pegou fogo nesta madrugada?

A outra moça respondeu:

- Eu escutei a notícia no rádio, logo nesta manhã. Há boatos de que Moacir e Tereza, os donos da residência, e a empregada morreram. Mas, o interessante é que não acharam o corpo do filho destas pessoas.

Naquele instante Douglas, que escutou tudo, sentiu um nó na garganta e começou a chorar. De repente, a vaquinha do presépio apareceu ao lado dele e falou:

- O destino dos seus pais era ir para o céu ontem mesmo. Porém, nós os personagens do presépio, salvamos você, menino. A sua vida ainda é o melhor presente de Natal.

Assim Douglas foi adotado por Margarida, sua tia, que era muito religiosa, pois todos os anos, montava um presépio natalino, onde o garoto gostava de rezar. Ela, também, levava este sobrinho para visitar a Cidade dos Presépios das Lojas Hermes Macedo.

Luciana do Rocio Mallon

 

 

 

 

 

 

 

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