Art&MusicaLSlides® Alamar - "As grandes tragédias e as mensagens espíritas"

 

De: Alamar Régis Carvalho

Para: Lourenço Sanches

Assunto:  As grandes tragédias e as mensagens espíritas

Lourenço: Sempre que ocorrem grandes tragédias, com desencarnações coletivas, sempre aparecem muitos artigos espíritas dizendo que os mortos, em encarnação anterior, estiveram nas arenas romanas queimando cristãos.

 

 

 

As grandes tragédias e as mensagens espíritas

 

Sempre que acontece uma grande tragédia, durante algum tempo a internet fica carregada de mensagens dos espíritas, explicando o que aconteceu, porque aquela tragédia ocorreu e porque muita gente morreu no evento que é sempre chamado de “mortes coletivas”.

É uma beleza a facilidade que nós espíritas temos para explicar para as pessoas o que é que acontece nesse fenômeno chamado morte. Nós temos um domínio e um conhecimento da morte que chega a ser impressionante, inclusive vale lembrar que quando morre um ente querido de um espírita, principalmente quando vítima de acidente, de um infarto fulminante ou qualquer tipo de morte repentina, ele encara com uma tranqüilidade que dá até inveja em quem não é espírita.

Certamente o espírita deve ficar muito feliz numa hora desta, porque sabe que o seu ente tão amado vai estar em Nosso Lar, sendo recebido por Clarêncio, Dona Laura, Lísias e todo aquele povo (sempre eles que estarão lá, para toda a eternidade), além dos seus parentes que o antecederam no retorno, alegres e felizes.

Que beleza a morte, não é gente?

Será que é assim mesmo?

 

Vamos botar o pé no chão?

 

É muito válido, sem dúvida alguma, o espírita disponibilizar-se para consolar as pessoas nos seus momentos difíceis, dado que o espiritismo é uma proposta também de consolação, pela capacidade que tem em explicar com argumentos lógicos o que estamos fazendo aqui, de onde viemos e para onde vamos.

O espírita de fato faz um trabalho muito bom em relação às pessoas, chamadas “não espíritas”, e até são admirados por elas que lhes dão atenção e credibilidade. Isto é fato constatado, a sociedade considera mesmo o espírita uma pessoa de bem.

Até aí tudo muito bom, tudo maravilhoso. Todavia tem certas coisas que precisam ser questionadas em nosso meio, não com um objetivo apenas crítico, mas com um que convida alguns confrades a repensarem os seus conceitos acerca da solidez das nossas convicções e do nosso comportamental.

Eu tenho procurado observar a enxurrada enorme de e-mails que me chegam, com as tais mensagens, e observo algo que já observei quando ocorreu o acidente com o avião da TAM que atravessou o aeroporto de Congonhas e explodiu no outro lado, matando mais de 200 pessoas, também quando ocorreu o acidente com o avião da Gol, a derrubada das torres gêmeas de Nova York, a morte de milhares nos tsunamis, o terremoto do Havaí e várias outras tragédias que mataram muita gente. Da mesma forma as argumentações quando ocorreram os incêndios do edifício Andraus e do Joelma.

A maioria delas utiliza aquele velho argumento de que as vítimas eram todas aquelas mesmas pessoas que frequentavam as arenas romanas para apreciarem o massacre dos cristãos.

É impressionante, mas se formos dimensionar o tamanho que deveria ter as arenas romanas, levando em consideração a quantidade de gente que já morreu em grandes tragédias e que os espíritas disseram que eram os seus frequentadores, chegaremos a conclusão de que cada arena deveria ter, no mínimo, um tamanho equivalente a pelo menos dez vezes o tamanho do estádio do Maracanã. Quem visita Roma sabe que elas não eram tão grandes assim, já que algumas continuam lá para preservação histórica.

Esse clichê espírita foi criado a partir do momento em que Chico Xavier, fazendo uma análise do incêndio do Gran Circo Americano, ocorrido em Niterói, no Rio de Janeiro, no início da década de sessenta, afirmou que um espírito lhe revelara que as vítimas daquela tragédia eram pessoas que participavam do massacre dos cristãos nas arenas romanas.

Mas a informação veio em referência às vítimas daquela tragédia e não de todas as demais tragédias com mortes coletivas que viriam a ocorrer ao longo dos anos.

A partir daí muitos espíritas entenderam que todas as vítimas de todas as tragédias com mortes coletivas são também pessoas que participaram das arenas romanas, e pronto.

Não precisa pensar, não precisa raciocinar, não precisa ter bom senso nenhum; se Chico falou nós temos que falar também e sair repetindo por aí, já que vemos o admirável médium mineiro como um santo infalível, que todas as suas opiniões eram tidas como verdade absoluta, indiscutível. O Chico não falou bobagem nenhuma, falou dentro da orientação espírita, mas em relação a um fato específico.

Agora mesmo, enquanto redijo este email, com a televisão ligada, ouço o “Jornal da Globo” anunciar uma explosão ocorrida hoje em um edifício no México, que também matou várias pessoas.

Será que elas eram também freqüentadoras das arenas romanas?

Mas desta vez os artigos começaram a trazer outros argumentos:

Vi artigos que afirmaram que as vítimas do incêndio da boate de Santa Maria foram soldados nazistas, que promoveram o holocausto e mataram muitos judeus por ocasião da segunda guerra mundial.

A continuar assim, certamente vamos chegar a conclusão de que o exército de Hitler era maior do que o exército chinês de hoje.

Argumentemos, então, em cima disto:

Vamos raciocinar?

Os elementos que praticaram atrocidades, durante a segunda guerra, agiram com extrema perversidade no período mais ou menos entre 1940 e 1945. De falto eram espíritos muito atrasados, pelo nível de ódio e maldade que ainda praticavam naquele período que é recente, levando em consideração os dois mil anos dos tempos das arenas romanas.

Eram verdadeiros monstros, pois que não há como qualificar de forma diferente criaturas capazes de fazerem o que fizeram.

Consideremos o seguinte:

Alguém que viveu nos tempos dos primeiros cristãos e que vive encarnado hoje, certamente passou por várias encarnações neste período de dois mil anos e é possível e natural que, no processo de aprendizagem das repetidas encarnações, tenha burilado a sua moralidade e que hoje esteja como uma pessoa considerada boa, em relação a média moral da sociedade.

Não é regra geral, mas é uma considerável probabilidade.

Ninguém passa da condição de monstro perverso e sanguinário numa encarnação para uma pessoa boa, amorosa, meiga, compreensiva, carinhosa e afetuosa logo na encarnação seguinte. Não mesmo, pois, se fosse assim, bastaria uma encarnação a mais para alcançar o que André Luiz chamou de Ministério da União Divina.

Pois bem:

A média de idade dos jovens que desencarnaram na boate Kiss de Santa Maria era de 20 anos, o que implica que foram pessoas que nasceram ali pelo final da década de oitenta e início da década de noventa.

Observemos que nem todos os carrascos nazistas morreram em 1945, pois muitos deles ficaram velhos e morreram muito mais tarde, em várias partes do mundo, para onde fugiram, inclusive aqui no Brasil.

Estabeleçamos, então, uma média de 30 no máximo para a desencarnação daqueles monstros, se bem que vários deles morreram recentemente.

Em um espaço de tempo curto desse processa-se no máximo uma encarnação. É claro que pode haver mais de uma, mas não é o comum, segundo nos relatam os espíritos.

Vejamos alguns casos:

Nas diversas matérias, programas e reportagens que a televisão está mostrando, já que ela hoje não fala de outra coisa senão disto, vimos várias reportagens com familiares das vítimas, que mostram fotografias e até imagens gravadas em vídeos de filhos que morreram na tragédia, onde se verificam alguns extremamente carinhosos, meigos, alegres e felizes. Eu vi a de uma menina, de 17 anos, que era um docinho de carinhosa.

Certamente alguém que foi monstro e com tão elevado nível de maldade e perversidade na encarnação passada, não se transformaria numa pessoa meiga, carinhosa, afetuosa e bondosa logo na encarnação seguinte.

Em visita que fiz à cidade de Blumenau, Santa Catarina, em outubro de 2011, tive a oportunidade de ser levado pelos amigos para conhecer a vizinha cidade de Pomerode, que fica ao lado, cidade que foi construída por alemães e que tem todas as características de uma cidade alemã. A gente tem impressão de que não está no Brasil, quando visita aquela cidade. Até os pães, biscoitos, doces e alimentos encontrados nas padarias e confeitarias da cidade não tem nada a ver com o Brasil, são receitas europeias bem alemãs. Por sinal, deliciosos. A foto ao lado mostra a entrada da cidade.

A pequena Pomerode é a cidade onde se registra o maior índice de suicídios do Brasil, mas em números muito elevados e assustadores. Só mesmo o conhecimento do espiritismo e da reencarnação para entender porque aqueles números são tão grandes.

Informam os amigos que as pessoas que se matam ali, segundo revelação dos espíritos, nas mediúnicas, de fato eram soldados nazistas, pessoas que se compraziam com as perversidades de Adolf Hitler.

Fiquei tão curioso em relação àquela informação cultural que me foi passada que procurei saber mais sobre a forma como vivia aquela gente, principalmente os que se mataram e, com muita dificuldade, consegui mais informações:

Eram todas pessoas amargas, fechadas, introvertidas, rudes, egoístas, estúpidas, etc... e não tinham nada de carinhosas, sorridentes e afetuosas, o que demonstra uma característica lógica de quem realmente não foram nada que presta na encarnação passada.

Já que, de fato, há um índice elevado de suicídios numa cidade fundada por alemães, para onde muitos deles foram morar, depois que fugiram da Alemanha, encontramos lógica na quantidade de suicídios, da mesma forma que encontraríamos lógica, caso ocorresse uma tragédia com mortes coletivas naquela região, como a que ocorreu em Santa Maria, e alguém viesse a dizer que eram carrascos nazistas que morreram juntos para resgatar.

Faria sentido a conclusão.

 

O espiritismo é lógica e bom senso

 

É de bom alvitre que todos os espíritas entendam isto e que passem a pensar um pouco mais antes de se manifestarem acerca de determinadas coisas, pelo indispensável cuidado que todos devemos ter para não levar a nossa doutrina ao ridículo.

Existem determinados assuntos que as pessoas me sugerem, como tema, para eu falar em palestras que profiro em centros espíritas onde sou convidados, mas que eu recuso e evito falar.

Mas... por que Alamar, você recusa a falar sobre determinados assuntos?

Eu acho que se existe público que gosta da gente, que acredita e confia naquilo que dizemos, devemos ter muita responsabilidade em cima daquilo que falamos ou escrevemos. Por isto é preciso que tenhamos muita segurança, firmeza e convicção em todas as idéias que passamos, para evitar que sejamos cegos pretendendo guiar cegos.

Existem coisas que são faladas nas casas espíritas, como verdades absolutas e inquestionáveis que eu, sinceramente, não falaria com toda firmeza porque não posso dizer que acredito totalmente que sejam realmente daquele jeito.

Por exemplo: Que ninguém venha me pedir para fazer palestra, tendo como tema a tal “parábola da figueira” porque eu não vou fazer mesmo, já que não acredito naquilo, não acredito que o fato tenha ocorrido exatamente daquele jeito como narra as traduções do Evangelho para o português, visto que tal procedimento insensato não se coaduna com a personalidade de Jesus.

Eu vejo por aí espíritas se referindo a Maria Madalena como prostituta, em palestras, repetindo apenas o que outros disseram ou escreveram, sem se dar ao trabalho de procurar pesquisar e se aprofundar na questão. Acho isto um absurdo!

Tem também aquela conversa de que Emmanuel havia mandado que Chico Xavier comesse a tal barata encontrada na sopa, que é algo que não me entra, em hipótese alguma. Já que Allan Kardec deixa bem claro que espírito que realmente seja evoluído jamais maltrata o médium daquele jeito e jamais impõe coisa alguma, considerando também que ele mesmo, o próprio Emmanuel, recomendou a Chico recorrer a Kardec toda vez que alguma orientação sua lhe parecesse equivocada, como é que tal fato poderia acontecer?

Será que Chico era tão idiota a ponto de se submeter a tamanho absurdo?

Se Emmanuel viesse aqui para mim e mandasse que eu comesse uma barata, eu iria mandar ele para aquele lugar, mesmo sendo o Emmanuel, não tenham a menor dúvida.

Aí fica um monte de espírita adaptando os seus textos e as suas palestras para dar respaldo a determinados absurdos, só porque disseram que foi Emmanuel que disse e que foi Jesus que fez, como a tal parábola da figueira.

Tenham a santa paciência, mas isto não é postura de gente racional.

Que continuemos a exercer o nosso papel maravilhoso de espíritas que sempre levam boas mensagens ao público e, felizmente, o público adora e se sente beneficiado com elas. Mas sem abrir mão do bom senso, de coerência e da responsabilidade.

          Abração a todos.

 

                           Alamar Régis Carvalho
          Analista de Sistemas, Escritor e ANTARES Dinastia
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