Muito se tem observado a respeito dessa postura – tão comum nos dias atuais, e melhor traduzida pelo que venha a ser o sentimento da mais absoluta ausência de sensibilidade com relação a alguém, a "terceiros"... Esquecendo-nos, por completo, de que todos são nossos parceiros de jornada.
Em "O Discípulo do Diabo", Bernard Shaw esculpe a fala:
"O maior pecado para com os nossos semelhantes, não é odiá-los, mas sim tratá-los com indiferença; é a essência da desumanidade."
Bertold Brecht, dramaturgo e poeta alemão, também buscou na gênese dessa palavra – a indiferença, para produzir quiçá, seu poema de maior repercussão ao descrever o desinteresse das pessoas quando os malefícios que ocorrem limitam-se ao seu derredor, só vindo a tomar consciência quando estes as atinge; muita vez tarde demais para qualquer reação eficaz... Como ocorrido na Alemanha Nazista.
A questão de enorme gravidade exposta por esses pensadores humanistas diz respeito às pessoas, a cada um de nós, e convida-nos à reflexão: independentemente da corrente filosófico-religiosa abraçada, cingindo-nos tão apenas à vida presente e material, como ora se configura, havemos de reconhecer que não somos seres isolados na sociedade.
Dela fazemos parte, seja como membros integrantes de uma mesma família consangüínea, seja como cônjuges - casais formados, pais e filhos, irmãos, como companheiros de escola ou de trabalho, como amigos, como vizinhos de moradia, como clientes..., enfim o relacionamento se obriga a ocorrer naturalmente entre todos, independentemente de nossa vontade, mesmo se contrariamente a isso ela for manifesta.
As pessoas são singulares, cada ser individualmente atesta a diversidade, e é nesse verdadeiro amálgama que estamos inseridos juntamente com nossos companheiros de aprendizado na imensa escola chamada vida.
Somos parte..., e não isolada – integramos. Tenhamos disso plena consciência! Afinal desde os primórdios evolutivos da humanidade o homem se constitui em um ser gregário.
Entendamos, portanto, que a vida individualista, que prioriza o "eu" em detrimento do "outro", ou do "nós", apresenta-se como uma discrepância e, como tal, um dos problemas mais sérios que enfrentamos na atualidade; distorção essa que se verifica potencializada pelos recursos ora proporcionados pela Web, ao se lhes dar mau uso.
Os desvios de rota em face do progresso científico e desenvolvimento tecnológico da humanidade – notadamente quanto à moral, fez emergir diversas mazelas como o egoísmo, a cobiça, a inveja, o orgulho..., e assim, no seio da sociedade, instala-se também a violência e, por conseguinte o medo, decorrente dessa indesejável realidade que transformou grande parte de nós em uma nova espécie de indivíduos: humanóides "ilhados" em suas masmorras – físicas e mentais.
Ilhados especialmente pelo isolamento frente às pessoas em detrimento do imprescindível contato humano, em todos os seus níveis..., e desde a infância, pasme-se.
Humanóides, sim, pois evitamos pensar, refletir, ponderar, acerca do comportamento social (e obrigações) desejável sobrepondo – muita vez, uma argumentação "capenga" de "falta de tempo" imposta pelo ritmo alucinante da "modernidade", como pretensa "explicação" a esse insulamento...
Anos passados, o filme "Muito além do jardim" magistralmente interpretado pelo ator Peter Sellers, nos evidencia por meio do enredo - verdadeira sátira à indiferença, o abismo a que estaremos sujeitos se insistirmos em manter essa conduta tão destrutiva quanto desumana para com os outros..., e para com nós próprios.
Agrava-se que não estamos nos dando conta, da inversão de valores que viceja embutida nesse diapasão destoante: a falta de atenção e com ela o enfraquecimento dos laços que deveriam unir as pessoas; sendo o substantivo do sentimento o responsável por esses liames, nós os estamos desfazendo ao anestesiar o combustível único ao nosso bem-viver, à nossa saúde física e mental.
Transformamo-nos em indivíduos que acionam o botão de "start" ao nos conectarmos na tomada pela manhã, e desativamos com o "off" à noite sem termos, de fato, estado presentes em cada singular instante do dia, preciosos momentos vivenciados em nossas vidas; agimos roboticamente.
"O Mundo está mudado, a violência impera por toda parte não se pode mais confiar em ninguém, não se pode mais contar com ninguém. Todos são suspeitos..." – é voz corrente nas grandes cidades. Até os "shopping centers", antes redutos seguros, estampam os noticiários em razão dos assaltos que neles se sucedem.
Usamos das tecnologias do mundo moderno, que visam apenas auxiliar o homem em suas tarefas, para conseguir manter uma "distância segura" do Mundo, e de seus "perigos". O virtual parece ser mais seguro, mas fácil que o real... Haja vista que o mercado oferecido pelas compras virtuais experimenta índices nunca esperados de crescimento.
Modificamos nossos hábitos em nome de uma suposta segurança e, a reboque, deixamos nos envolver por um excrescente invólucro de insensibilidade denominado indiferença. A muitos serve até como moeda de barganha à compra de suas consciências, infelizmente.
Assim deixamos de nos importar com os outros – todos os outros, vivendo um constante "salve-se quem puder", como se tal comportamento nos trouxesse a solução ou o auxílio à mudança do rumo em que equivocadamente nos embrenhamos.
E quanto mais vamos nos afastando uns dos outros, mais difícil torna-se o retorno.
A sociedade como conhecemos está experimentando uma transformação extremamente perigosa. Dias sombrios assolam as grandes cidades..., nas menores, em face de suas características interioranas, ainda não tão acirrados.
Problemas de ordem material sempre existiram e dificilmente se extinguirão, mas é dos valores perenes, não amoedados que estamos nos referindo, estes que nos permitem, unidos, atravessar e vencer as catástrofes naturais e as tempestades econômicas que ciclicamente nos atingem, a sociedade e a cada indivíduo, por seu turno.
Amizades que deixamos de cultivar na infância, na juventude, hoje fazem falta a muitos homens e mulheres que se encontram vitimados por transtornos psicológicos como a depressão.
Relacionamentos familiares sólidos entre irmãos, pais e filhos, envolvendo cumplicidade e carinho, senão hoje, certamente no futuro nos farão muita falta, pois quando precisarmos nos abrir, desabafar, perceberemos que não mais temos intimidade com ninguém para tal.
É preciso agir. Agir enquanto houver tempo, e este já se faz extremamente escasso...!
Será tão difícil dar atenção, se importar com aqueles que estão ao nosso redor?
Será tão difícil romper essa barreira da indiferença, estender a mão, oferecer um abraço fraterno e perguntar: Como você está? – realmente desejando saber como anda a vida do outro para dela poder participar, e também abrir as portas da nossa, minimamente que seja? Externar uma palavra doce, um gesto de carinho, um afago aos que nos são mais próximos e caros?
O Mundo não sou "eu"... O Mundo somos "nós" !
Estamos todos expostos ao mesmo tipo de experiências, às mesmas provações, aos mesmos aprendizados. E é juntos que iremos superar os tropeços, aprender as lições, sair vitoriosos dos embates. Insulados em uma carapaça, nada podemos - somos impotentes!
É preciso tomar a iniciativa e agir, rompendo a insensatez da indiferença, do isolacionismo e, colocando em seu lugar o respeito, a compreensão e o amor fraterno, a suavidade das palavras, dos gestos de delicadeza. Não esperemos que o outro o faça..., tomemos a iniciativa e façamos nós!
Temos a responsabilidade de agir como vetores de uma transformação que urge para modificar o amálgama amorfo em que a humanidade vem se transformando.
"Quando se sonha sozinho, é apenas um sonho. Quando se sonha junto, é o começo da realidade"
Abramos as janelas do coração espargindo vibrações benfazejas e deixando penetrar a luz brilhante do astro rei, com seu calor que nos traz ao íntimo toda a energia para eliminarmos boa parte das carências de que ainda somos possuidores..., lacunas no corpo e na alma!
* Lourenço Nisticò Sanches - Profissional de Marketing, pesquisador, cronista e articulista
26 de agosto de 2012
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