E POR FALAR EM DEUS

 

* Milton Medran

 

      Da conversa daqueles dois homens que caminhavam pelo calçadão de Ipanema só pude ouvir esta frase:

     - Mas, não me diga! Parecia que ele estava tão bem. Que Deus o tenha!

     Deviam falar sobre algum amigo que partira. A gente se acostumou a pensar desse jeito: que quando alguém morre vai se encontrar, face a face, com Deus. Isso, é claro, se o sujeito for legal, como, certamente, aqueles dois consideravam o amigo falecido. Caso tenha sido "do mal", aí o encontro será com outro personagem, e em lugar bem diferente.

     Engraçado! Nunca ouvi a expressão "que Deus o tenha" lembrando alguém que ainda esteja por aqui, doente ou com saúde. Aí, se costuma dizer: "que Deus o proteja", "que Deus o conserve", e coisas assim. "Que Deus o tenha" só se diz quando alguém morre, não é mesmo?

     Acho que já é tempo de mudar esse conceito de Deus. Em vez de imaginá-lo como Senhor de um reino eterno para onde alguns irão depois de mortos, pensemos nele como o verdadeiro Senhor da Vida, a Inteligência, a Energia das quais tudo e todos se originaram. Ou, pensemos na Divindade simplesmente como a Lei que preside a existência dos bons e dos maus, distribuindo-lhes, com igualdade, e conforme o merecimento de cada um, a Justiça, para que todos se encaminhem à Perfeição.

     Enfim, pensemos em Deus não como alguém que nos terá – ou não – depois da morte, mas como algo que cada um tem, na intimidade do ser, em qualquer lugar ou circunstância. Luz que ilumina o caminho, Consciência que permite o discernimento, Vida que se perpetua pela eternidade. Esse é o Deus que não está "lá". Está "aqui". No interior de cada um.

 

* Milton Rubens Medran Moreira - Advogado e jornalista. Presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre - RS.

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