ÚLTIMA MORADA

* Milton Medran

      Tem muita gente lamentando que o Dia de Finados, este ano, caia no sábado: "Poxa , um feriado a menos!", dizem.

Diferente do tempo de minha infância, Finados se tornou um feriado como outro qualquer. Uma data para "curtir" e não mais aquele dia pesado em que as rádios tocavam música clássica e as pessoas vestiam preto. Ainda bem!

Mesmo assim, há tradições que resistem ao tempo. A visita a cemitérios, por exemplo. Mas, com o avanço da cremação, também nossos campos santos estão reduzindo sua população. A tendência está certa. Com tanta falta de moradia no mundo, ter de reservar um espaço físico para a última morada é um desperdício. Minha família já sabe: quero que cremem meu corpo quando me tocar de abandoná-lo. Assim, também libero aqueles que aqui deixar da obrigação de visitar meu túmulo. Até porque eu não ficaria ali. Nem me conformaria em ser apenas as cinzas de minha cremação. Quero para mim um pouco mais após a morte.

Quem achar que eu mereça ser lembrado, no Dia de Finados, como em outro qualquer dia, que recorde os bons momentos da vida em que estivemos juntos. Que pense em mim com o mesmo carinho que deles levarei comigo para onde for.

Acho bom que exista um Dia de Finados. E que continue sendo feriado. Pena que às vezes caia em sábado ou domingo. Mas que seja sempre um dia para curtir.  Curtir saudade não é somente sofrer. É também recordar e conviver, reviver e compartilhar sentimentos.

 Se eu tiver mesmo que escolher uma última morada para que algo de mim permaneça aqui, seja ela o coração das pessoas que amei.

 

* Milton Rubens Medran Moreira - Advogado e jornalista. Presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre - RS.

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