Art&MusicaLSlides® "Sensibilidade e Emoção"

Sensibilidade e Emoção

 

* Lourenço Nisticò Sanches

 

Desde o momento em que despertamos do sono reparador de cada noite, se nos detivermos apenas por uns instantes para uma reflexão mais aprofundada seremos forçados a aceitar que a Criação proveu todo ser vivo – animal ou vegetal de vigorosas fibras de sensibilidade que, em última análise, dão razão à vida.

No reino vegetal, quase que exclusivamente, podemos observar de forma espontânea essa manifestação acionando os mecanismos destinados à proteção da vida, inerentes a cada espécie.

Já no reino animal as sensibilidades são mais apuradas, e estando menos sujeitas a automação mecânica respondem pelo acionamento de outro mecanismo mais complexo, o da emoção.

É exatamente a emoção o intrincado agente responsável por ditar as manifestações do comportamento..., desde o balançar da cauda de um cão quando este se sente feliz ao avistar seu dono ou ainda, quando mostra os dentes e rosna demonstrando desagrado ou insatisfação. Apenas para citar dois simples exemplos.

No ser humano as notas da sensibilidade são incrivelmente mais complexas e apuradas, além de passarem pelo cadinho da razão e também refletirem as influências de experiências pretéritas registradas em nossa essência, esta que é eterna. Todavia, interage intimamente com a emoção de sorte a imprimir sensações, novas ou reprisadas, em nosso ser – físico e mental, às quais não conseguimos ignorar e nos manter impermeáveis aos seus efeitos, inclusive no que tange a preservação do melhor equilíbrio do aparelho somático – por mais esforço contrário que racionalmente empreendamos.

Isto porque nosso ser serve-se apenas temporariamente da matéria densa que constitui o corpo físico, visto a essência de cada individualidade estar muito além da perecível matéria; é nela que reside o centro das sensibilidades e das emoções, não nos órgãos físicos, estes apenas reagem apresentando os efeitos. Chamem-na de alma, espírito, ou como melhor aprouver. 

É essa essência que se aprimora continuamente, progride e eleva-se ao depurar as fibras de sua sensibilidade, veículo que transporta os elementos que ascendem e respondem pelas emoções, formam um liame indissociável – cada vez mais límpido e puro, menos sujeitos às interferências de sensações menores, até vir a confundir-se com o sentimento maior do universo, o amor, responsável pela Criação.

Naturalmente o nível evolutivo da psiquè é determinante para que as emoções derivadas da sensibilidade sejam mais ou menos agudas, revelando a sutileza de sentimentos que já lhes foram desenvolvidos, ou que ainda carecem de maior progresso.

É bem por essa razão que imagens, sons, palavras e atitudes nos atingem de forma diversa provocando a manifestação de nossa emoção em consonância com o grau personalíssimo da sensibilidade já conquistada.

Reagimos emocionalmente de forma distinta a notícias do cotidiano, a acontecimentos de que participamos, ou que tenhamos notícia – positivos e negativos. É a nossa alma que é atingida.

Ao escutarmos uma composição musical, como "Clair de Lune" de Claude Debussy, os filamentos mais sutis de nossa essência sensibilizam-se e a emoção flui suavemente. Sentimos "algo" etéreo e indescritível que penetra pelo entremeio de nossos sentidos e reverberam lá no "fundinho" nos enlevando..., quiçá estimulando recordações emotivas que a presente vida não tenha sido testemunha, ou descortinando aspirações de nossa alma.

A busca constante dessa sutileza de sentimentos, que nos fazem emocionar, é o que nos torna mais partícipes da Criação, e o que nos aproxima da destinação que o Pai Eterno a todos nos reservou.

Estendamos nosso olhar para esse horizonte nos empenhando responsavelmente por alcançá-lo, sopesando cada palavra que proferirmos, cada gesto, cada atitude tomada, a fim de que contenham a doce vibração que nós próprios buscamos no terno afago das sensibilidades imprimindo, a nosso turno,  indeléveis acordes nas emoções de todos ao nosso derredor.

 

 *Lourenço Nisticò Sanches

           LNSanches@terra.com.br

30 de novembro de 2013

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