Art&MusicaLSlides® Milton Medran - Coluna de 5 de março do 'Diário Gaúcho' - "REMORSO"

 

REMORSO

 

* Milton Medran      

 

Dizendo-se arrependido de todas as maldades feitas na vida, o velho personagem da novela das seis repete, a todo o momento: “Quero pagar pelos meus erros”.

Não acompanhei a trama toda, mas dá para entender que ele foi muito safado desde os primeiros capítulos e agora virou um sujeito legal. Os autores costumam fazer isso no final das novelas. O bem termina vencendo o mal que dominou a maioria dos capítulos.

Na vida real, as coisas não são bem assim. Ninguém se transforma de uma hora para outra. Transformação é processo lento, sentido, dolorido. Nasce da consciência de que o mal que se faz, querendo ofender os outros, atinge em cheio o próprio malfeitor.

        Não há transformação sem dor. Isso não significa que se deva procurar o sofrimento para purgar nossas faltas. A vida oferece mecanismos reparadores que começam lá no íntimo da alma, com um sentimento chamado remorso. Num velho samba do Lupi, há um verso que diz: “O remorso talvez seja a causa de seu sofrimento”. Na verdade, quando bate o remorso, o sofrimento já se instalou na alma e não tem outro jeito de tirá-lo dali senão com a reparação. Mas, a reparação não precisa ser dolorosa. Fazer o bem àqueles que ofendemos ou à sociedade cujas leis violamos deve ser algo prazeroso e reparador. A questão não é pagar, é refazer. A vida é um eterno refazimento. Por isso, nascemos, morremos e renascemos tantas vezes.

        Quando todo mundo entender isso, talvez não necessitemos mais de prisões. O tribunal da consciência, aquele para o qual ninguém consegue mentir, fará do mal um bem e dos erros acertos. Inferno e purgatório são apenas mitos que o tempo há de sepultar. Praticaremos o bem porque ele nos faz felizes e não por medo do castigo.

 

* Milton Rubens Medran Moreira - Advogado e jornalista. Presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre - RS.

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