SEREMOS TÃO DIFERENTES ? 

 

* Milton Medran           

Eles podem ser reconhecidos de longe! Com todo esse calor, os homens trajam calças compridas e camisas bem abotoadinhas. As mulheres usam saias e cabelos longos. Às vezes, fazem parte do grupo crianças, também sempre muito bem vestidinhas.

            Aqui no balneário onde fico nos meses de janeiro e fevereiro, nunca os vi à beira-mar. Imagino que naquele livro volumoso que transportam numa pasta e dizem conter toda a palavra de Deus, ou nos folhetos que eles distribuem, citando salmos, capítulos e versículos, devam existir recomendações para que não se aproximem da praia. Aquelas pessoas, com trajes sumários, circulando junto ao mar, talvez não devam ser vistas por seus filhos.

            Minha casa fica a umas quatro quadras do mar. Por aqui, eles transitam bastante. Algumas vezes, já bateram à minha porta. Fiquei com suas mensagens. Mas, sempre pedi que voltassem outra hora, porque não poderia lhes dar atenção naquele momento.

            Ultimamente, eles não têm insistido mais. Estranho! Antes de passarem pela frente de minha casa, atravessam a rua como a fugir de algo ruim.  Será que foi porque, na última vez que estiveram aqui, eu lhes disse que todos os moradores da casa eram espíritas? Poderia isso ter provocado algum medo neles? Que pena! Não era minha intenção.

 Um dia talvez a gente possa conversar. Bater um longo papo, arejados pela mesma brisa que vem do mar ou sob a luz do luar, num céu muito estrelado: belo cenário que a natureza oferece, aqui, a crentes e não crentes, nas noites de verão.

  Seremos tão diferentes assim que não temos coisas comuns para conversar? Não creio.

 

* Milton Rubens Medran Moreira - Advogado e jornalista. Presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre - RS.

 

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