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quarta-feira, 10 de junho de 2015
Quando Fui Além do Pseudônimo Masculino
Meu nome é Luciana do Rocio Mallon, sou uma pessoa do sexo feminino e meu passatempo sempre foi escrever.
Nos anos noventa, eu gostava de ouvir um programa chamado Love Songs, na Rádio Caiobá FM, com o locutor Vargas. Lá era um espaço para as pessoas mandarem os poemas para os amados.
Como, de vez em quando, aparecia um eu-lírico masculino de dento de mim, passei a mandar alguns textos com o pseudônimo de Henrique. Mas quando o meu interior feminino voltava, eu mandava poemas com o meu nome real mesmo. No final dos anos noventa, o locutor Vargas saiu desta rádio e eu deixei de escutar o programa, por causa disto. Pois com os outros radialistas não tinha graça.
Em 2004, passei a frequentar um grupo de poetas da vida real, onde a maioria dos membros era idosa. Ao mesmo tempo, eu possuía um blog na Internet onde escrevia textos de vários gêneros e estilos, alguns eram eróticos. Um certo dia, um senhor moralista imprimiu meus textos mais quentes e mostrou para a coordenadora do grupo, que também era uma pessoa da terceira idade. Então ela tomou a liberdade de me chamar a atenção dizendo que uma menina não deveria escrever textos sensuais, pois até os homens estavam assustados com os conteúdos. Assim fui afastada desta equipe. Logo, percebi que esta foi uma opinião machista por parte de algumas pessoas de lá.
Por isto, esperei a poeira baixar e resolvi visitar o grupo vestida como homem. Desta maneira, o maquiador Gustavo colocou bigode em mim fora outros truques de pintura. Além de me emprestar terno e gravata. Quando cheguei ao local, não falei nada, apenas entreguei alguns poemas sensuais assinados com o pseudônimo de Henrique. A idosa, que era dona do grupo, leu os textos em voz alta e ainda por cima elogiou. O interessante é que ninguém suspeitou que eu e Henrique éramos as mesmas pessoas.
Conheço lendas de mulheres que durante a Idade Média e, também, no século dezenove precisavam escrever textos sensuais com pseudônimos masculinos por causa do machismo. Mas, infelizmente, enfrentei situação semelhante em 2004.
Luciana do Rocio Mallon
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