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sábado, 21 de maio de 2016
Como Superei o Cutting na Adolescência
Meu nome é Luciana do Rocio, sou pesquisadora de causos, e, também, como fui professora costumo receber as seguintes mensagens de mães:
- A minha filha adolescente está se cortando, o que devo fazer?
- Por que isto acontece?
O hábito de uma jovem se cortar chama-se cutting. Isto ocorre porque, geralmente, a adolescente deseja aliviar a angústia que sente, em sua alma, que normalmente é causada por bullying na escola.
Entre 1986 e 1988, eu era adolescente, morava em Brasília, onde tinha amigos tanto no colégio quanto na quadra. Porém no final do ano meu pai foi transferido para uma cidade do interior do Paraná, perto de Curitiba.
Na nova escola, quando eu tinha de 14 para 15 anos de idade, passei a sofrer bullying por ser obesa e maculinizada. Pois meus colegas me chamavam de: gorda, baleia, sapatão e bicho feio. Além de falarem, na minha cara, que eu nunca arrumaria um namorado por causa da minha aparência. Quando as professoras passavam trabalhos em grupo, ninguém queria fazer comigo porque eu era considerada a sapatão do colégio. Como todo dia caçoavam de mim, eu passei a sentir uma angústia muito grande. Até que um dia eu vi uma gilete e comecei a me cortar nas coxas e nos braços. Como eu era muito romântica, mas desprezada pelos rapazes, passei a fazer cortes em formato corações, como se estas figuras tivessem a magia de me arrumar um pretendente. Já que o meu amor platônico tinha ficado em Brasília.
Minha família, ao notar a minha mudança de comportamento, me levou a uma psicóloga. Porém isto me causou mais angústia ainda. Pois a doutora falou que tinha a obrigação de arrumar um namorado e de me enfeitar. Porém eu não conseguia arrumar ninguém, por causa do bullying e não tinha condições financeiras de cuidar da aparência. Desta forma, dei um jeito de dispensar a terapia, continuei me cortando e passei a usar roupas que cobriam o corpo inteiro para disfarçar os cortes e a minha obesidade.
No final de 1990, minha família falou que moraria em Curitiba. Assim dei graças por ter que mudar de cidade. Assim, notei que no novo colégio não sofri mais bullying e que arrumar um namorado não era uma obrigação. Como sempre gostei de escrever, passei a criar poemas toda a vez que sentia angústia e ansiedade em vez de me cortar. Então, aos poucos parei com a automutilação. Hoje, tenho 42 anos e não faço mais isto.
Por tudo que passei, darei dicas para você saber se sua filha está praticando cutting: observe se a adolescente está usando mangas e roupas compridas em dias quentes; note se ela tornou-se mais calada; verifique se os curativos estão sumindo de sua casa e reviste o corpo da sua filha atrás de marcas de cortes. Se você encontrar todos estes sinais, vá até a escola, peça para conversar com a orientadora educacional e pergunte sobre o comportamento da jovem, seu rendimento, seus relacionamentos com os colegas, etc. Peça para que a orientação e a direção da escola observe o comportamento de sua filha. Depois procure um médico e um psicólogo com referências.
Lembre-se: praticar autoagressão não é falta de caráter. Pois é apenas um sinal inconsciente de um pedido de ajuda.
Luciana do Rocio Mallon
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