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Alguns cuidados essenciais aos espíritas

*Lourenço Nisticò Sanches

Ao escrever estas considerações, muito embora sejam consubstanciadas em matéria amplamente divulgada, desde sempre por reconhecidos e ilustres personalidades da Doutrina dos Espíritos, especialmente por seu codificador – Allan Kardec, confesso que senti uma espécie de desconforto – semelhante ao que o amigo Alamar Régis Carvalho deve experimentar quando da elaboração e publicação de seus excelentes, muito embora contundentes, escritos.

 

Melhor explicando:

 

Por sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica:

 

·        Da revelação divina, porque foi providencial o seu aparecimento e não o resultado da iniciativa, nem de um desígnio premeditado do homem; porque os pontos fundamentais da doutrina provêm do ensino que deram os espíritos encarregados por Deus de esclarecer os homens acerca de coisas que eles ignoravam, que não podiam aprender por si mesmos e que lhes importa conhecer, hoje que estão aptos a compreendê-las.

 

·        Participa da segunda, por não ser esse ensino privilégio de individuo algum, mas ministrado a todos do mesmo modo; por não serem os que o transmitem e os que o recebem seres passivos, dispensados do trabalho da observação e da pesquisa, por não renunciarem ao raciocínio e o livre-arbítrio; porque não lhes é interdito o exame, ao contrário, recomendado; enfim, porque a doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega, porque é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que os espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio às ilações e aplicações.

 

Numa palavra, o que caracteriza a revelação espírita é o ser, divina a sua origem e da iniciativa dos espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem.

 

Os espíritas em geral, não apenas os neofitos como também os "antigos seguidores", mais especialmente os que se dedicam ao estudo da Doutrina Espírita percebem, desde logo, que se encontram diante não apenas de uma religião, mas de um fantástico cabedal de conhecimentos fortemente alicerçados na ciência e na filosofia, acompanhando-as par e passo em seu desenvolvimento através do tempo – e, por mais incrível que pareça, a elas se adiantando ao nos revelar fatos que paulatinamente – e no seu devido tempo, vêm se confirmando pelas pesquisas e novas descobertas científicas. Além de, naturalmente, nos desnudar a história da civilização e do orbe terreno, como nunca dantes, auxiliando-nos ainda a exercitar nosso raciocínio e bom senso. Ufa!

 

Deixemos de lado neste despretencioso escrito os multiplos aspectos edificantes e consoladores proporcionados pelo espiritismo e vamos procurar nos ater tão apenas no que denominei "perigos" a que a Doutrina dos Espíritos pode nos expor, visto que o meu propósito não é senão o de modestamente unir-me a tantos outros espíritas igualmente preocupados com o progresso individual e coletivo desta humanidade da qual todos fazemos parte, para nos conscientizar e assenhorar de alguns dos cuidados que devemos ter; tratando-se, pois, de um alerta.

 

O conhecimento é diretamente proporcional ao grau de responsabilidade social que temos. Ampliar o conhecimento significa ampliar a responsabilidade para com a cidadania, para com a natureza, para com os seres vivos, para com o nosso semelhante e para com nós próprios e para com as Leis emanadas pelo Criador, tão bem exemplificadas por Nosso Irmão Maior - Jesus.

 

"É costume de um tolo, quando erra, queixar-se dos outros. É costume de um sábio queixar-se de si mesmo".
Sócrates.

 

É exatamente por descortinar informações não disponíveis ao público em outras religiões – especialmente referido-nos às doutrinas que são seriamente pautadas em bases filosófico-religiosas – que são expostas pelo espiritismo de forma totalmente "aberta" a quem desejar colher desse manancial de cultura e fé raciocinada no Criador, que alguns prosélitos "estufam o peito" face aos parcos conhecimentos superficialmente adquiridos e sem maior aprofundamento sentem-se pessoas diferenciadas possuidoras da "chave do conhecimento".

 

Também os há dentre os que militam na Doutrina há vários anos e, pasmem, não raro também identificamos "trabalhadores" que se encontram no desempenho de atividades de auxílio fraterno em instituições espíritas, com essa mesma postura – conscientes ou não de sua falha, o que torna-se ainda mais grave.

 

A exemplo dos trabalhadores de uma profissão liberal, situando-se ela em qualquer área de atividade do conhecimento humano, é exigido profundo e permanente estudo para seu melhor exercício, igualmente aos que se dedicam ao trabalho voluntário de auxílio fraterno em instituições espíritas exige-se constante estudo, atualização e, especialmente, vigilância – a mesma que nos foi prescrita pelo Mestre: "orai e vigiai" (Mateus, 26,41).

 

Quanto mais não dizer das pessoas que executam trabalhos que exigem a faculdade da mediunidade para seu melhor e perfeito desempenho objetivando o auxílio fraterno.

 

Lamartine Palhano Jr. em seu "Dicionário de Filosofia Espírita", conceitua mediunidade como sendo uma faculdade inerente ao homem que permite a ele a percepção, em um grau qualquer, da influência dos Espíritos. Não constitui privilégio exclusivo de uma ou outra pessoa, pois, sendo uma possibilidade orgânica, depende de um organismo mais ou menos sensitivo. Como mencionado, todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos, é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, privilégio exclusivo, donde se segue que poucos são os que não possuem um rudimento dessa faculdade. Pode-se, pois, dizer que todos são, mais ou menos, médiuns.

 

Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em que a faculdade mediúnica se mostra bem evidenciada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva. A predisposição mediúnica independe do sexo, da idade e do temperamento, bem como da condição social, da raça, da cultura, da religião, da inteligência e até mesmo das qualidades morais. Todavia, quanto mais elevado for moralmente o médium, melhor instrumento este se tornará à Espiritualidade.

 

Lembro-me do filme protagonizado pelo excelente Sean Connery – "O nome da Rosa". O enredo transcorre no ano de 1327, ou seja, o apogeu da Idade Média. Lá se retoma o pensamento de Santo Agostinho (354-430), um dos últimos filósofos antigos e o primeiro dos medievais, que fará a mediação da filosofia grega e do pensamento do início do cristianismo com a cultura ocidental que dará origem à filosofia medieval, a partir da interpretação de Platão e o neoplatonismo do cristianismo. As teses de Agostinho nos ajudarão a entender o que se passa na obra "O Nome da Rosa" que pode ser interpretado como tendo um caráter filosófico, quase metafísico, já que nele também se busca a verdade. Um restrito número de sacerdotes detém o conhecimento que – em sua visão – não poderia ser divulgado, sob pena de "caírem alguns dogmas do catolicismo". Guilherme de Baskerville (personagem de Connery), é o frade franciscano detetive, e é também o filósofo, que investiga, examina, interroga, duvida, questiona e, por fim, com seu método empírico e analítico, desvenda o mistério das ocorrências que cercam aqueles vulgos "eleitos a guardiões do saber".

 

Numa precária comparação, penso que algumas pessoas que se dizem espíritas, postam-se como aqueles sacerdotes do filme mencionado: tornaram-se – por si e pelo seu orgulho – em pessoas especiais, com predicados além da média, "só eles detém o conhecimento" e, naturalmente, as respostas a muitas questões que os indivíduos que lhes são mais próximos endereçam-lhes.

 

Lamentavelmente isso sucede mais comumente do que imaginamos.

   

Diante do exposto, não podemos deixar de mencionar outro fenômeno, o animismo.

 

Na literatura espírita o termo animismo é usado para designar um tipo de fenômeno onde é o espírito encarnado do próprio médium que se manifesta por seu intermédio. Para melhor entendimento desse fenômeno, podemos usar as denominações utilizadas pelo estudioso espírita Hermínio Corrêa de Miranda, quais sejam, a de chamarmos o espírito, que, segundo o espiritismo tem uma infinidade de existências, de individualidade, enquanto cada uma das existências do mesmo é uma personalidade.

 

Dessa forma, admitida a pluralidade das existências, conclui-se que a individualidade deve possuir um conhecimento imensamente superior ao de cada uma de suas personalidades, pois soma ao conhecimento da atual personaliade tudo o que se constitui em sua "bagagem de experiências e conhecimentos" das que representou nas existências pregressas.

 

Desse modo, na manifestação anímica, o médium pode expressar muitos conhecimentos que ele, enquanto personalidade, não possui. Daí decorre, muitas vezes, que não há como se saber se uma manifestação é anímica ou realmente mediúnica, ocorrendo esta última tão somente quando o espírito que se comunica não é o que está encarnado no médium.

 

Entretanto, essa linha de raciocínio não considera uma dicotomia entre fenômeno anímico e fenômeno mediúnico. Na grande maioria das vezes, o que ocorre é um estado intermediário com maior ou menor participação do espírito encarnado no médium em relação ao espírito desencarnado que por ele se expressa.

 

"Desde que uma opinião nova venha a ser expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom senso reprovarem."

 

Só há um caminho para qualquer médium lograr o melhor êxito no seu trabalho mediúnico: é o estudo incessante aliado à disciplina moral superior. Nenhum médium ignorante, fantasioso ou anímico transformar-se-á em um instrumento sensato, inteligente e arguto, se não o fizer pelo estudo ou próprio esforço de ascensão espiritual.

 


Nesta seara – influência moral do médium, um estudo sério e sistematizado relativo à correlação entre espiritismo e animismo é válido para uma caminhada segura, sem fantasia, baseada em instrumentos sadios e esclarecedores quanto ao que nasce do intermédio entre o plano carnal e o espiritual e o que tem origem na estrutura - mental de um individuo apenas: mesmo portando ele o "galardão" de muitos anos de espiritismo e de dedicação ao trabalho mediúnico.

 

Essa interferência anímica inconsciente, por vezes, é tão sutil que o médium é incapaz de perceber quando o seu pensamento intervém ou quando é o espírito comunicante que transmite suas idéias pelo contato perispiritual.

 

Não podemos, contudo, confundir o animismo com a "mistificação", ou seja, a deliberação consciente de enganar, resultado da má intenção; esta sim, reprovável em todos os aspectos e que deverá ser totalmente banida tão logo o padrão vibracional e moral do médium se eleve; visto que na maioria das vezes essas ocorrências estão intimamente relacionadas com o cultivo do orgulho, antes referido quando mencionamos o filme "O Nome da Rosa".

 

Entendemos, portanto, que a prática mediúnica requer muito conhecimento visto existirem muitos médiuns anímicos mesmo dentro da Doutrina, principalmente aqueles que não se dão, ao respeito e não procuram fazer cursos e estudar com afinco os livros da Codificação e em especial "O Livro dos Médiuns".

 

 

Por fim, ao encerrar estas ilações gostaria de lembrar um dos mais importantes ditos de Allan Kardec, de extrema utilidade a todos nós, iniciantes ou antigos na Doutrina, e muito especialmente aos trabalhadores voluntários do abençoado trabalho de auxílio fraterno desenvolvido nas instituições espíritas:

 

"Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea"

AllanKardec em 'O Livro dos Médiuns' dissertando quanto "Da influência moral do médium".

 

1 de dezembro de 2010.

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