Art&MusicaLSlides® "AS TRÊS PAIXÕES DO JOVEM KARDEC"

AS TRÊS PAIXÕES DO JOVEM KARDEC

Eugênio Lara

Há 200 anos reencarnaria Hippolyte Léon Denizard Rivail, o grande pedagogo francês que se tornou conhecido sob o pseudônimo de Allan Kardec, nome que adotou de um druida gaulês, uma existência sua anterior à do sacerdote tcheco John Huss.

 

Kardec foi educado nos princípios católicos em uma família de classe média, com tradição de juristas e intelectuais entre seus membros. O pai era maçon. A mãe, dizem seus biógrafos, era uma mulher belíssima.

 

Pouco sabemos de sua infância. Deve ter sido uma criança muito inteligente, vivaz, observadora, curiosa, sonhadora, cheia de vida como são todas as crianças. Mas acredito que, desde cedo, dava para perceber a maturidade precoce daquela criança, o senso moral altamente desenvolvido. A inteligência muito acima da média. Não deve ter dado trabalho para os pais.

 

A precocidade natural o fez dirigir a escola de Pestallozzi, em Yverdun, na Suíça, com a idade de 14 anos. Segundo seu próprio depoimento, desde os 15 anos passou a estudar o magnetismo. Lia e estudava compulsivamente, leu todos os clássicos. Lançou seu primeiro livro aos 18 anos. Um adolescente brilhante, desde cedo preocupado com a educação.

 

Cresceu, casou aos 27 anos com a pequena Gaby, prosseguiu escrevendo livros pedagógicos, dirigindo escolas e ministrando aulas. Suas duas paixões: a educação e o magnetismo.

 

Pois foram essas duas paixões, a educação e o magnetismo, que aproximaram Rivail dos fenômenos mediúnicos, das chamadas mesas girantes. Tentou inicialmente explicar aqueles fenômenos pelas leis do magnetismo, ciência cujo domínio era notório. Percebeu que estava diante de um fenômeno de causas insólitas. Adaptou o método experimental das ciências no estudo da fenomenologia mediúnica. Extraiu, da observação de diversos fenômenos e do diálogo com os Espíritos, toda uma filosofia, que estruturou, sintetizou, organizou, fundou. Sempre sob o apoio e incentivo da doce Gaby, a terceira paixão de Kardec, a amada companheira de todas as horas, cuja influência foi decisiva na elaboração de O Livro dos Espíritos, a primeira obra lançada pelo fundador do Espiritismo, em 18 de abril de 1857.

 

Era o que sempre buscou, desde criança, uma resposta para as graves questões da vida e da morte, do céu e da terra. Construiu um poderoso instrumento pedagógico por força da paixão de sua vida: a educação. Sempre foi um educador, muito mais do que um cientista. Fosse um William Crookes a estruturar essa forma de conhecimento e sua feição seria outra, muito mais científica, metodológica, racionalista mesmo.

 

Uma das grandes armas da filosofia espírita é a facilidade de ser entendida, pois foi forjada por um sistematizador do conhecimento, um pedagogo, um comunicólogo de mão cheia, um livre-pensador de mentalidade científica e filosófica. A feição pedagógica do Espiritismo é um antídoto contra o misticismo, a superstição, o sofisma, o sectarismo e o fanatismo, tanto quanto o seu poder filosófico.

 

Quem diria que aquela criança, provavelmente vestida com roupinha de marinheiro, de ar sério e jovial ao mesmo tempo, iria realizar tudo o que realizou. Rivailzinho deve ter sonhado com tudo aquilo que viria a enfrentar, mas não entendia bem o que se passava. Ainda mergulhado em seu sonho infantil, se divertia em conhecer a natureza, em aprender, em expandir seus horizontes, de forma lúdica, natural. Como natural era seu gesto terno e romântico ao ofertar cerejas a sua Gaby, tiradas da árvore, sob o apoio de um banco de madeira, sempre sob o olhar cuidadoso e preocupado de sua eterna companheira.

 

Mesmo na meia-idade deve ter se divertido com as peripécias dos Espíritos na movimentação das mesas e banquinhos. Era a grande atração dos salões parisienses. Divertido, curioso, um verdadeiro espetáculo. O Espírito Zéfiro, que o acompanhava, era muito bem-humorado, cabeça fresca. Apesar da aparência séria e sisuda, Kardec era bem-humorado, jovial, agradável.

 

Conta seu amigo-irmão Lemarye que os dois constumavam se reunir aos domingos em sua casa para tomar vinho e contar piadas, especialmente de gauleses. Acredito que piadas de fantasmas eram também uma das prediletas.

 

Sua obra atravessou o tempo e sobrevive graças ao empenho daqueles que vêm no Espiritismo uma forma de cultura, uma forma de conhecimento capaz de mudar o enfoque do ser humano e da sociedade, uma corrente de pensamento voltada para educação e o pleno desenvolvimento intelecto-moral e psíquico, mental. Se prosseguirmos no mesmo espírito que norteou Kardec, o Espiritismo continuará o seu desenvolvimento: o espírito científico, que o levou a estudar o magnetismo e posteriormente o Espiritismo; e o espírito pedagógico, que o conduziu no uso da filosofia espírita como instrumento de transformação moral e social.

 

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