CRÔNICA PARA MARTIN

* Milton Medran

 

Quando soube do falecimento dele, pensei: "É mais um irmão que se vai, a fila anda, chegará minha vez".  Quase que eu disse: "Perdi um irmão". A gente sempre fica com a sensação de perda quando morre alguém por quem se nutre afeição.

         No caso de Martin, mano falecido dia 28 último, eu poderia também dizer: "Perdi mais um leitor de minha coluna". Ele a acompanhava sempre, desde o lançamento do Diário Gaúcho, há 13 anos, e gostava de comentá-la comigo.

 O certo é que não perdi ninguém. Relações fundadas no afeto jamais se perdem. Eternizam-se no tempo e, apesar da distância, seguem fluindo pelos canais mais sutis da vida.

Precisamos nos acostumar com essa ideia. A morte é apenas um fenômeno biológico: uma artéria que se rompe, um coração que deixa de bater, uma infecção que, de repente, se torna incontrolável. Fenômenos biológicos, de natureza material, não podem afetar a vida na sua mais delicada essência, que é espiritual. Relações de afeto não são produzidas por fluxos sanguíneos ou formadas de micróbios, células e bactérias. Não é o coração que as produz. Afeto é coisa que nasce, cresce e se perpetua na alma da gente.

         Não perdi um irmão. E, tenho certeza, também não perdi um leitor. Martin, na dimensão em que se encontra, está recebendo meu preito de saudade nesta crônica. É possível que a tenha lido antes mesmo de sua publicação.

Quem sabe, até, daqui para frente, ele possa me ajudar a fazer outras crônicas, falando da verdadeira vida: aquela que renasce em cada despedida e tem a dimensão da eternidade.

 

* Milton Rubens Medran Moreira - Advogado e jornalista. Presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre - RS.

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