REENCONTRO NO NATAL

 

De Irmão X (Humberto de Campos) - Psicografia de Francisco Cândido Xavier

Livro: “Os Dois Maiores Amores” - Página 70.

 

A Senhora M. C., funcionária dos Correios de grande metrópole atendia à seleção da correspondência recolhida pela manhã, prelibando a festa marcada para a noite.

A véspera do Natal lhe surgia excitante. Encontro alegre de amigos.

Separada do marido, depois de dois anos, promovia o desquite. Com ele, deixara o filho único e os ideais mais lindos de mulher. Escolhera uma profissão, vencendo as dificuldades por si mesma.

Agia com as mãos e pensava: “Hoje, renovarei o caminho. Um sonho diferente. Afinal, estou livre e posso aceitar obrigações para com outro homem. Partirei, de hoje em diante, para a formação de novo lar. Já disse tudo a ele e ele me compreendeu. É um rapaz desquitado, sofrido quanto eu mesma”.

Enquanto isso, os dedos tateavam cartas e jornais. Quase mecanicamente, revisava nomes, carimbos, anotações. Escolhia material, aqui e ali.

Em dado momento, um papel dobrado, sem envelope, lhe caiu aos pés. Apanhou-o. Uma folha simples com endereço com letras desajeitadas: “Para Jesus - No Céu”.

A funcionária examinou o pequeno e estranho documento e, porque estivesse claramente aberto, mergulhou-se na leitura, de modo a inteirar-se de como devia agir e devorou o conteúdo, palavra por palavra:

Querido Jesus...

Soube que o Senhor é quem distribui presentes para todos no Natal. Muita gente acredita no Papai Noel, mas tia Belinda me disse que Papai Noel é o Senhor mesmo.

Vou colocar esta carta na caixa do correio, pedindo uma coisa. Vou explicar.

Não querida que o Senhor me desse brinquedos, nem mesmo o automóvel que vi na loja.

Queria que o Senhor me trouxesse minha mãe.

O Senhor sabe que ela nos deixou porque sofria demais. De noite, quando meu pai chegava da rua, fechava a porta com força e xingava muito, porque havia tomado bebidas fortes. Dava pontapés nas cadeiras e depois avançava para ela querendo bater e, às vezes, até batia.

Mamãe chorava, abraçada comigo, mas, uma noite, ela saiu e não voltou mais.

Fiquei muito triste e papai também. Ele é bom para mim, mas quando bebe diz que eu não presto, que vai me levar para um asilo ou para o hospital.

Estou doente, querido Jesus, mas estou na escola. Quando é de noite, sinto frio e tenho muita tosse. Tia Belinda e Dona Silvana cuidam de mim, mas não é a mesma coisa que minha mãe.

O Senhor poderá encontrar mamãe e trazê-la.

Se o Senhor falar com ela que estou doente, sem dormir de noite e tomando remédios, sei que ela virá.

Querido Jesus, não precisa mandar brinquedos nem bombons como no ano passado.

Traga mamãe para mim.

A Senhora M. C. leu a assinatura engasgada de emoção.

Chegara-lhe às mãos a missiva do filhinho de oito anos.

Recompunha o rosto, lavado em pranto, quando foi chamada ao telefone. Atendendo, disse apenas ao interlocutor que conversava no outro lado do fio:

- Agradeço, mas sinto muito. Não me espere mais. Tenho novos compromissos.

E, à noite, a senhora M. C. demandou o antigo lar.

Recebida alegremente pelas duas senhoras que lhe chefiavam agora a casa, passou na sala de visitas pelo esposo que, embora embriagado, a cumprimentou, surpreendido.

Rapidamente, alcançou o quarto do filhinho, com a ansiedade de quem reencontra um tesouro perdido e o pequeno, ao vê-la, ergueu-se do leito, exclamando, feliz:

- Ah! Mamãe!... Mamãe!... Então Jesus recebeu a minha carta e trouxe a senhora?!...

Ela somente respondeu, com o peito rebentando em lágrimas de ventura:

- Ah! Meu filho!... Meu filho!...

 

"O Lar é o coração do organismo social. Em casa começa nossa missão no mundo. Entre as paredes do templo familiar preparamo-nos para a vida com todos; seremos lá fora o prosseguimento daquilo que já somos na intimidade de nós mesmos".

 

 (Scheilla / Chico Xavier – Livro: LUZ NO LAR)

 

 

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