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As Lendas do Plástico-Bolha

Esta semana escutei o boato de que o plástico-bolha deixaria de ser fabricado. Isto me deixou, profundamente, triste. Afinal, mexer neste tipo de material é o meu passatempo preferido desde os cinco anos de idade. 
Reza a lenda que o plástico-bolha surgiu por acaso, em 1957, quando dois cientistas tentavam criar um plano de fundo de plástico texturizado com o verso em papel que pudesse ser limpo. 
Minha paixão por estourar este tipo de material surgiu no jardim-de-infância, quando a professora deu um pedaço de plástico-bolha para cada um e disse: 
- Agora vamos estourar os sentimentos ruins! 
- Cada bolinha transparente é algo mau: uma é o ódio, a outra é o egoísmo, também tem a tristeza... 
- Podem estourar! 
Então peguei aquele objeto e fui estourando cada coisa ruim que havia no meu peito. Assim, a todo o segundo que eu estourava uma bolinha, exclamava termos do tipo: 
- Tchau egoísmo! 
- Adeus tristeza! 
- Vá embora saudade! 
A partir daquele dia, passei a pedir plásticos-bolhas para meus conhecidos e parentes. Sem falar que eu fuçava as latas de lixo atrás destas preciosidades. 
Dez anos depois, mudei de escola. Então, logo no primeiro dia, escutei um boato sobre a Lenda do Fantasma do Plástico-Bolha, quando uma colega chegou para mim e disse: 
- O banheiro feminino do térreo nem é aconselhável usar. Pois dizem que lá mora o Fantasma do Plástico-Bolha. Reza a lenda que nos anos 60, Cida, uma estudante, estava estourando plástico-bolha dentro deste toalete, quando, de repente, morreu do coração. Dizem que para que seu espírito não venha assombrar a escola, é preciso colocar uma folha de plástico-bolha dentro deste banheiro. Por isto, todos os dias, antes das sete da manhã , a zeladora deixa um material destes perto da pia e ninguém deve toca-lo. Inclusive, Cida está enterrada no Cemitério Municipal São Francisco de Paula e em cima do túmulo dela sempre aparecem plásticos-bolhas estourados. 
Logo pensei: 
- Oba! 
- Acho que vou chegar mais cedo e estourar o plástico-bolha da alma penada. 
Deste jeito, passei a fazer isto. Mas, logo as funcionárias da limpeza começaram a estranhar que o precioso material sumia, ou, aparecia estourado do nada. Logo as pessoas estavam perguntando umas para as outras: 
- Será que é o fantasma de Cida que está estourando o material? 
Um certo dia, fiz meu procedimento de sempre: entrei mais cedo no colégio e penetrei no banheiro do térreo para estourar o plástico-bolha trancada numa privada. De repente, escutei a voz de um menino: 
- Eu sou o mais corajoso da escola e pegarei este fantasma! 
Como um raio, ele chutou a porta da privada e me pegou estourando o plástico-bolha. Desta maneira este garoto gritou: 
- Vejam a impostora! 
Assim, os alunos me levaram para a coordenação e exigiram uma punição, como suspensão, por exemplo. Pois , segundo alguns deles, eu estava roubando algo que não era meu. Porém, a coordenadora não quis me castigar e apenas me aconselhou a consultar uma psicóloga. 
As profissionais de saúde mental que procurei falaram que este hábito não era recomendável, pois podia virar transtorno obsessivo compulsivo. Mas, que seria um excelente exercício para melhorar a coordenação motora, já que a minha nunca foi boa. 
Agora, como já citei, fiquei com depressão ao saber que o plástico-bolha vai acabar. Colegas já me falaram que existe o plástico-bolha virtual, porém não achei graça em passar o mouse e escutar os pequenos estouros. Depois, amigos me mostraram um site onde há um chaveiro, em forma de plástico-bolha, que nunca acaba após os estouros. Porém, o dono do portal falou que o objeto não está à venda. 
Neste momento sigo a minha vida, com a consciência que cada sentimento ruim é uma bolha de plástico a ser estourada. 
Luciana do Rocio Mallon 


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